Valor Econômico
Cristiane Perini Lucchesi, de São Paulo
O J.P. Morgan, um dos bancos que menos sofreu com a crise de 2008, vai investir pesado no Brasil na área corporate, que presta serviços como gestão de caixa, pagamentos, faz transações de câmbio e de hedge (proteção financeira) para grandes empresas. Somente durante este ano, o J.P. Morgan pretende contratar 80 pessoas na área, incluindo suporte – um aumento considerável em relação ao total de 350 funcionários que o banco possui hoje no Brasil.
O banco também está próximo de comprar a Gávea Investimentos, numa clara investida em várias frentes no mercado brasileiro.
“Com a crise, percebemos que as grandes empresas querem ampliar o número de bancos parceiros, de forma a evitar muita concentração de negócios em poucas instituições financeiras”, afirma Greg Guyett, recém-nomeado presidente-executivo da área corporate global do J.P., em sua primeira visita ao país no novo cargo. Os investimentos serão de US$ 100 milhões somente em pessoal para ampliar a área no mundo todo.
O Brasil, assim como a China e a Índia, são os países com “crescimento econômico acima do global” e, por isso, são as prioridades iniciais da nova área corporate, diz Guyett. Outros focos serão a Alemanha, Suíça e Inglaterra.
O J.P. Morgan se vale da fraqueza de um banco americano concorrente direto tradicionalmente forte no segmento e com presença nas regiões mais remotas dos países emergentes, o Citigroup. Entre os maiores com presença global e força nos emergentes, o HSBC é outro concorrente de peso, que não sofreu com a crise e também está investindo na área no Brasil.
“Não queremos concorrer com os bancos brasileiros, que são fortes no atacado e têm presença nacional de destaque em todos os locais do país”, explica Guyett. O foco do corporate do J.P. Morgan será o crescente número de corporações brasileiras que possuem aspirações globais e as multinacionais dos países ricos e dos emergentes que têm ampliado sua presença no Brasil. “A ideia é aproveitar nossa presença em 60 países para participar do fluxo crescente de negócios entre países emergentes”, diz.
O banco pretende ampliar o número de clientes no país dos cerca de 75 atuais para 200 até o final deste ano, chegando a 314 até 2012, conta Alejandro Guevara, responsável pela área corporate na América Latina e no Brasil. No mundo todo, serão contratados 200 novos “bankers” (o executivo responsável pelo atendimento ao cliente), triplicando o total de 100 hoje existentes.
No Brasil, serão nove “bankers” neste ano mais cinco em 2011. “Vamos precisar de mais bankers para atender a todos esses novos clientes”, explica Guevara. Os “bankers” deverão ter ainda experiência com crédito e com gestão de balanço das instituições.
O J.P. Morgan pretende ampliar também sua presença na América Latina, de forma a responder com mais eficiência à demanda das companhias brasileiras que têm crescido na região, conta Susan Stevens, responsável pela área de corporate banking nas Américas. O banco está presente no México, Peru, Chile, Argentina e Colômbia.
Por enquanto, o patrimônio líquido de R$ 1,6 bilhão do conglomerado no país parece suficiente. Mas, segundo Guyett, capital não vai representar uma restrição ao crescimento do banco. “A ideia é alavancar nossa já forte presença no país e usar nosso balanço forte”, explica Guyett, que veio da área de banco de investimento do J.P. Morgan e tinha como último cargo o de presidente do banco no Japão.
Segundo ele, o banco de investimento – que faz assessoria em fusões e aquisições, emissões de ações e de títulos – e a área de Treasury & Securities Services (TSS) – que faz custódia, gestão de caixa para clientes e financiamento ao comércio exterior – são espécie de “fábricas” de produtos que serão apresentados aos clientes pelos “bankers” da área corporate.
“Vamos também fazer as conexões entre as áreas do banco”, explica Susan Stevens. Os executivos da área corporate argumentam que oferecendo produtos como gestão de caixa, gestão de passivos e financiamento ao comércio exterior é possível obter relações mais duradouras com as empresas.
O pessoal do TSS fica com o dia a dia da empresa e o do banco de investimento, com as questões mais estratégicas. O próprio Guyett vai responder para Heidi Miller, CEO da área de TSS global, e para Jes Staley, CEO do banco de investimento.
Com a estrutura e os investimentos, o J.P.Morgan pretende aumentar sua presença global, visto que 75% de suas receitas passaram a vir dos Estados Unidos depois que o banco comprou, em meio à crise, o Bear Stearns e o Washington Mutual, dois bancos americanos que estavam para quebrar.
O J.P. Morgan quer passar a ter participação de 15% na área corporate nos mercados mais importantes, a mesma que possui nos Estados Unidos. Na área de banco de investimento, quer ter participação de 9% a 12%. Por ora, as turbulências na Europa são consideradas “volatilidade de curto prazo”, insuficientes para alterar a implantação do novo projeto.