José Paulo Kupfer: Cuidado com os catastrofistas

Das muitas novidades da atual crise financeira global, uma que chama a atenção é a queda da regra de do silêncio sobre instituições em dificuldades. O paradigma quebrado é o de que não se devem amplificar as informações sobre as dificuldades de um banco porque é aí mesmo que ele escorre pelo ralo.

Esse tipo de comportamento antigo, mais cauteloso e discreto, inclusive e sobretudo na imprensa, também escorreu pelo ralo, nesta crise. Entrou em cena a novidade do anúncio da fila dos afogados.
Realmente, no mesmo momento em que as atenções – e as notícias – se concentravam nos esforços para salvar o Lehman Brothers, se anunciava, em letras ampliadas, que a Merril Lynch e a AIG eram os próximos.

A Merril Lynch foi passada adiante e a AIG já entrou na UTI. Hoje, com o rebaixamento de seu rating pelas famosas agências de classificação de riscos, as ações estão 91% abaixo do valor há um ano. Falando claro, já não tem condições de se safar sozinha do afogamento.

Quem será o próximo? Saíram, hoje cedo, os resultados trimestrais do Goldman Sachs, o maior banco de investimento americano, e, até aqui, o menos afetado pelas turbulências. Ainda deu lucro, só 70% abaixo do registrado há um ano, e as receitas caíram 50%.

Mas o que explica essa mudança de paradigma? Uma resposta interessante, ainda que não a única e, eventualmente, nem a melhor, é a de que tem muita gente – mas muita gente mesmo – vendida nos mercados futuros, vivamente interessada, neste momento, em aproveitar a onda e os preços dos ativos que carregam. E como carregam ativos.

A moral dessa história, para os viventes da planície, é a de que, com o maior cuidado para não colocar todas as fichas nesse diagnóstico, as previsões catastrofistas podem estar camuflando aqueles chamados “interesses inconfessáveis”.

Como quem normalmente está fazendo previsão é gente do próprio mercado, que opera no mercado para si ou para outros . Não é para não acreditar, mas para botar um pé atrás.

José Paulo Kupfer é jornalista econômico. Possui o Blog José Paulo Kupfer – crônicas da economia brasileira. O link está disponível pelo site da Contraf na seção de links – leituras recomendadas – blog do José Paulo Kupfer.

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