Raquel Landim
O Estado de S. Paulo
O Itaú Unibanco, o maior banco privado do País, fechou 9 mil postos de trabalho em um ano – mais de 40% apenas no segundo trimestre. A redução do número de vagas acompanha uma tendência do setor, mas é mais expressiva que nos concorrentes. O assunto preocupa o sindicato dos bancários e se tornou tema da campanha salarial da categoria, que começou ontem.
De acordo com dados obtidos no balanço do banco, o Itaú Unibanco empregava 92.517 pessoas no País em junho deste ano, 9.014 menos que em junho de 2011. Boa parte dessa redução ocorreu recentemente, com um corte de 3.777 vagas entre março e junho. De janeiro a junho, o saldo é negativo em 5.741 postos.
Bradesco e Santander também reduziram o número de trabalhadores no segundo trimestre, mas em volume menos significativo. Foram fechadas 571 vagas no Bradesco e 135 no Santander de março a junho. No acumulado do ano, o saldo é negativo em 153 postos no Bradesco e positivo em 316 no Santander.
Entre junho de 2011 e junho deste ano, Bradesco e Santander registraram aumento no número de funcionários – 6.214 e 1.557 novas vagas, respectivamente. No Bradesco, com a perda do Banco Postal para o Banco do Brasil, houve abertura de novas agências e contratações.
Procurado pelo Estado, o Itaú Unibanco informou por meio de nota que os recentes desligamentos estão ligados à venda da processadora de cartões Orbitall – cerca de 40% do total – e que na fusão remanejou 2 mil funcionários. “A prioridade do Itaú Unibanco é a busca constante de eficiência, não demitindo e, sim, realocando profissionais.”
Para os representantes dos trabalhadores, os cortes ainda são um reflexo da fusão. Em 2008, os dois bancos empregavam 108.458 pessoas – 77.354 no Itaú e 37.104 no Unibanco. Em relação ao total de colaboradores hoje, foram fechados 15.941 postos.
Os sindicalistas também atribuem os cortes de vagas ao crescimento dos correspondentes bancários – casas lotéricas, lojas de roupas, farmácias e outros varejistas que realizam operações como abertura de conta-corrente, serviço de cobrança e crédito.
Segundo o Banco Central, entre maio de 2011 e julho deste ano, os correspondentes bancários saíram de 160 mil para 332 mil. Os três maiores bancos privados registraram crescimento dos correspondentes, mas em magnitudes diferentes: a alta foi de 5,0% no Santander, 64% no Bradesco e 256% no Itaú Unibanco.
“O emprego bancário está sendo deslocado”, afirma Juvandia Moreira, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região. Para Bárbara Vallejos, técnica do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio Econômicos (Dieese), os bancos estão atendendo os novos clientes da classe C por meio do correspondente bancário, enquanto mantêm nas agências as contas maiores.
Reversão
O emprego no setor bancário, que vinha crescendo com vigor, sofreu uma reversão, acompanhando o desaquecimento da economia. No primeiro semestre, foram abertos 2.350 novos postos, abaixo dos 11.978 do mesmo período de 2011, revela pesquisa do Dieese e da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), com base em dados do Ministério do Trabalho.
O resultado só foi positivo por conta da Caixa Econômica Federal, que aumentou em 3.492 o número de vagas. Nos bancos múltiplos com carteira comercial, que inclui Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Banco do Brasil, o saldo foi negativo em 1.209 postos de trabalho.
“Os bancos privados se esconderam atrás dos bancos públicos, que estão contratando”, disse Carlos Cordeiro, presidente da Contraf. Para o sindicalista, os bancos querem ampliar sua eficiência reduzindo o número de trabalhadores, porque perderam rentabilidade com a queda da taxa de juros promovida pelo governo federal.
Em nota enviada à reportagem, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou que o quadro total de funcionários do setor continua crescendo. Em junho de 2012, eram 509 mil pessoas, uma alta de 0,4% em relação aos 506.723 de dezembro de 2011. No ano passado, foram criados mais de 20 mil empregos, um aumento de 4,9% comparado com 2010. “O sistema bancário apresenta a menor rotatividade dentre todos os setores da economia”, diz a nota.