Ricardo Mioto
Folha de S.Paulo
Em agosto de 2012, o Itaú tentou inovar na cobrança de juros no cartão de crédito no Brasil. A metodologia ainda não decolou, e agora, lançando uma nova bandeira, Hiper, o banco tenta fortalecê-la.
A ideia é cobrar os juros desde a data da compra, sempre que o cliente não pagar a fatura integralmente. Hoje, o padrão é cobrar juros apenas a partir da data da fatura.
Isso aumenta a exposição do cliente a juros – entre a compra e a fatura, podem passar até 40 dias. Por outro lado, os juros -5,99% ao mês – são mais baixos do que a média do mercado (9,37%).
A bandeira Hipercard, que já é vendida ao cliente com essa taxa de 5,99% a partir da compra, tem 5% do mercado.
Para aumentar a sua participação, o Itaú criou agora o Hiper. Apesar do nome propositalmente similar, trata-se de outra bandeira, nova.
JUROS
Marcos Magalhães, diretor de cartões do Itaú, lembra que no mundo todo os juros são contados da data da compra.
“Esse período de gratuidade entre a compra e a fatura, que faz parte da nossa cultura e é herança da inflação alta, faz com que os juros fiquem mais altos no Brasil. Na prática, aqui alguns poucos clientes pagam muito juro para subsidiar a gratuidade.”
O Hiper demonstra também que o Itaú procura agora adotar uma estratégia de menor dependência dos parceiros.
Um deles é a Mastercard. Cerca de 80% dos cartões emitidos pelo banco têm bandeira da empresa americana. Com o Hiper, o cliente poderá optar por uma bandeira “própria” do Itaú.
Outro parceiro é o Walmart, com quem o Itaú divide o Hipercard. O cartão é oferecido aos clientes da rede e é emitido nas próprias lojas.
O Itaú afirma que o Hiper não se direciona à classe C, chamando-o de “democrático”, e defende que ele não competirá com o Hipercard, popular no Nordeste.
O Hiper, porém, será um cartão aceito apenas no país, deve ter um modelo pré-pago, dá créditos de celular aos clientes e a sua publicidade, com Luciano Huck, será mais forte em capitais como Maceió, Salvador e Fortaleza.
Se a nova bandeira Hiper emplacar, o Itaú dominará:
1) A emissão do cartão, a ser feita agora nas próprias agências, e não por um parceiro;
2) A comunicação entre cliente e banco durante a compra, hoje nas mãos de bandeiras como Mastercard;
3) O processamento em si do pagamento, pois o Hiper só funciona nas maquininhas da Redecard, também do Itaú.
No caso das máquinas, os bancos aguardam regulamentação do Banco Central que pode declarar a obrigatoriedade de compartilhar redes -ou seja, não existiriam mais acordos de exclusividade.
Já é assim para Visa e Mastercard, mas não para as bandeiras menos tradicionais.