Andrea Jubé e Bruno Peres
Valor Econômico | de Brasília
A presidente Dilma Rousseff fez ontem (28) uma defesa enfática da política econômica de seu governo. Afirmou que não faz uma avaliação “otimista, mas realista” da economia. Apontou a existência de um “jogo de pessimismo inadmissível” no setor, “como na Copa do Mundo”, atribuiu o crescimento lento à crise internacional e reafirmou que a inflação está controlada. Ela se negou a antecipar nomes para a equipe econômica no caso de eventual segundo mandato. “Sou supersticiosa”.
Questionada sobre a substituição – ou manutenção – de Guido Mantega no Ministério da Fazenda e Alexandre Tombini no Banco Central, Dilma lembrou o episódio em que Fernando Henrique Cardoso sentou-se na cadeira de prefeito de São Paulo antes da eleição, em 1985, e depois perdeu para Jânio Quadros: “A última vez que botaram o carro na frente dos bois, sentaram na cadeira do prefeito antes e perderam a eleição.”
Em sabatina promovida pelo jornal “Folha de S. Paulo”, UOL, SBT e rádio Jovem Pan, Dilma afirmou que usam “dois pesos e duas medidas” para julgar o seu governo no combate à alta dos preços. “A inflação não está descontrolada e vai ficar dentro da banda”, pontuou. “Eu te asseguro que, considerando a inflação anualizada, ela estará abaixo do limite superior da meta”. Advertida de que a inflação ultrapassou o teto da meta, ela retificou que está “0,02% acima do teto”, mas “em trajetória decrescente”.
A presidente relatou que os países desenvolvidos passam por uma “modestíssima recuperação”, citando Estados Unidos, Japão, China e Índia. Ao contrário, observou que o Brasil mantém uma “taxa de crescimento acima da média internacional” e enfrenta “da forma mais corajosa a mais grave crise econômica que o mundo passou desde 2008”. Neste ponto, questionada se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se equivocou ao afirmar que se tratava de uma “marolinha”, Dilma respondeu que houve erro de avaliação. “Todos erramos” porque “a gente não tinha ideia do grau de descontrole do sistema financeiro internacional”.
Dilma voltou a afirmar que não se concretizou a “tempestade perfeita” anunciada no ano passado. Citou como escudos de proteção brasileiros as reservas internacionais no valor de US$ 380 bilhões, a “política monetária ativa” do Banco Central e o processo “positivo” em relação ao mercado.
Ao falar sobre o episódio do Santander – que enviou aos clientes um comunicado advertindo que a ascensão de Dilma nas pesquisas afetava negativamente a economia -, a presidente afirmou que se trata de uma especulação contra o país: “Acho muito perigoso especular em situações eleitorais, acho que é inadmissível para qualquer país, principalmente para a sétima economia do mundo, aceitar qualquer nível de interferência de qualquer integrante do sistema financeiro de forma institucional na atividade eleitoral e política.”
Ela advertiu que vai ter uma “atitude bastante clara em relação ao banco”, mas não antecipou qual será esta medida. Classificou o pedido de desculpas do banco como “protocolar” e disse que vai buscar uma brecha em sua agenda para se reunir com o CEO da instituição.
A presidente aposta no horário eleitoral para crescer nas pesquisas: “Não há grau de conhecimento razoável sobre tudo que o governo federal fez, acredito na capacidade de colocar as coisas às claras.”
Relativizou o efeito da polêmica sobre a compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras na campanha. Segundo ela, o episódio mostra que ela sempre teve uma “conduta decente” nos cargos públicos, já que foi isentada de responsabilidade por decisão do Tribunal de Contas da União (TCU).
Em dois momentos alfinetou seu principal adversário, o tucano Aécio Neves. Questionada sobre o impacto da corrupção do PT na campanha, especialmente no caso do mensalão, ela rebateu. “O mensalão foi investigado, o mensalão mineiro não”. Advertida de que o processo continua tramitando contra o ex-deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG), porém na primeira instância – depois que ele renunciou ao mandato -, Dilma provocou: “E o que você acha que vai acontecer?”
Também lembrou que o tucano criticou o governo pelos subsídios à indústria: o governo petista investiu, segundo ela, R$ 200 bilhões no programa Brasil Maior. “Diziam que a gente tinha de parar de subsidiar a indústria”, afirmou.
Ela rebateu as críticas de Aécio ao programa Mais Médicos, que paga subsídios menores aos médicos cubanos. “Isso não é salário. Pelo amor de Deus, é bolsa”, respondeu, afirmando que se trata de convênio entre o Brasil, Cuba e a Organização Panamericana da Saúde (Opas), braço da ONU.
Por fim, foi questionada sobre guardar R$ 152 mil em espécie em casa, conforme declarado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ela disse que guarda recursos em moeda por costume, desde quando era perseguida política. Perguntada se não importava em perder os rendimentos desse dinheiro retrucou: “O que são R$ 10 mil?” Depois de segundos de silêncio, completou: “Dez mil são muita coisa, eu sou mineira.”