Valor Econômico
Assis Moreira, de Viena
O custo da regulamentação potencial a ser imposta aos bancos deverá ser equivalente a 0,5% do PIB por ano, ao longo de cinco anos, nos Estados Unidos, o maior mercado financeiro do mundo. Na Europa, poderá ser quase o dobro.
A estimativa é do Instituto Internacional de Finanças (IIF), a associação mundial de bancos, a ser revelada hoje em Viena (Áustria) por um grupo de presidentes de grandes instituições – Josef Ackermann, do Deutsche Bank; Roberto Setubal, do Itaú Unibanco; Francisco Gonzales, do BBVA, Stephen Green, do HSBC e Peter Sands, do Standard Chartered.
Levando em conta o PIB atual, os bancos americanos precisariam levantar US$ 365 bilhões adicionais ao longo de cinco anos se forem aprovadas medidas como a maior exigência de capital, regras de liquidez, limites de alavancagem, todas em discussão no Comitê de Basileia, além da reforma do sistema financeiro em análise nos EUA.
A expectativa é que as projeções do IIF venham em tom bastante pessimista, por se tratar de uma associação que representa o interesse dos bancos.
Sem entrar em detalhes, Setubal, que é vice-presidente do IIF, não repetiu interpretações catastróficas de alguns colegas. O banqueiro frisou que, no caso específico do Brasil, o impacto será “muito marginal para os bancos e a economia real”, estimando que as medidas em discussão na cena internacional já estão implementadas no país.
Resultado da regulamentação adotada no Brasil, o sistema financeiro nacional se saiu bem da crise global e o próprio Itaú Unibanco é apontado num levantamento do “Financial Times” como um dos bancos com maior valor de mercado do mundo, de US$ 88,5 bilhoes, bem à frente dos suíços Credit Suisse (US$ 61,1 bilhoes) e UBS (US$ 57,9 bilhoes).
Nesse cenário, o principal executivo da Associação dos Bancos Suíços, Urs Roth, chegou a dizer que os custos da regulamentação a ser aplicada sobre os bancos vai resultar “até em crescimento negativo das economias”, na medida em que haverá enorme redução do crédito, por exemplo.
O IIF aponta, por sua vez, o aumento de riscos que já vêm causando ações “unilaterais”. Países e regiões adotam medidas que não são seguidas pelos outros, gerando distorções no mercado.
Na outra direção, Stephen Cecchetti, principal economista do Banco Internacional de Compensações, espécie de banco dos bancos centrais, reiterou esta semana que o custo da regulamentação para os bancos será “modesto e compensado por ganhos significativos que a nova regulamentação vai permitir”. Para Cecchetti, bem além de mais e melhor capital para absorver perdas inesperadas, o que está claro com a crise é o risco causado pela pobre gestão de liquidez nos bancos.
As medidas em discussão, acrescenta o economista, certamente não vão eliminar toda a instabilidade financeira ou o risco de crises. Mas ajudarão a reduzir o risco de que o problema numa parte do sistema financeiro – num banco especifico, mercado ou região – se propague para o resto do mundo.