Valor Econômico
Vanessa Adachi, de São Paulo
Não faltaram bancos de investimento interessados em fazer uma oferta de ações do HSBC Brasil depois da bem-sucedida operação do Santander Brasil no ano passado. Mas a matriz do banco inglês, que está bem capitalizada e em situação muito diferente da maioria dos bancos americanos e europeus, resolveu mandar dinheiro para a sua subsidiária brasileira. Na virada do ano, o Banco Central aprovou um aumento de capital de R$ 1 bilhão no banco. Com isso, o capital total do banco vai a R$ 15,5 bilhões.
“Esse dinheiro será usado para alavancar nossas operações de crédito”, afirma Conrado Engel, o presidente do HSBC Brasil. O índice de Basileia passará de 13,3% para 15%, ampliando a folga de capital da instituição para emprestar. O índice de nível 1 (que considera apenas o capital em relação aos ativos) passará de 9,2% para 11,4%.
De acordo com Engel, com essa injeção de recursos será suficiente para sustentar o crescimento do banco nos próximos três anos. No cálculo, ele leva em conta que o próprio banco gerará lucros que reforçarão o capital no período e que a instituição também fará novas emissões de dívida subordinada (dívidas que ajudam a compor o índice de Basileia).
“Depois de três anos vou precisar ligar de novo para o Mike”, brinca Engel, referindo-se a Michael Geoghegan, CEO mundial do banco, que em passagem pelo Brasil em outubro afirmou que, se a subsidiária precisasse de capital, bastava pegar o telefone e pedir. Lá fora, o banco fez uma bem-sucedida oferta de ações no ano passado.
Como a maioria dos bancos, o HSBC também projeta crescimento de 20% do crédito neste ano e, de acordo com Engel, o banco pretende empregar o capital para crescer os empréstimos em três frentes: financiamento ao comércio exterior, crédito a pequenas e médias empresas e financiamento imobiliário para o cliente pessoa física.
Na área de “trade finance”, o banco vai abrir agora no começo do ano uma “brazilian desk” em Xangai, na China, para atender empresas brasileiras que exportam para chinesas e vice-versa. Dois executivos brasileiros acabam de ser mandados para lá – outros dois foram para Hong Kong para capturar investidores asiáticos interessados em aplicar no mercado brasileiro.
O HSBC espera crescer em 30% as operações de crédito para pequenas e médias empresas neste ano. Hoje, há uma base de 350 mil clientes neste segmento, com operações de R$ 4,5 bilhões. A intenção, portanto, é fechar 2010 com quase R$ 6 bilhões nesta carteira.
“A terceira prioridade é o crédito imobiliário, que esperamos que cresça 40% ao ano nos próximos anos”, diz Engel. “Quando eu era responsável pelas operações de varejo do banco na Ásia, 70% do ativo era de crédito imobiliário. Aqui, só 5% dos ativos de pessoas físicas está nesse segmento”, diz. Atualmente, a carteira do banco está em torno de R$ 2,7 bilhões.
Na atividade de varejo, o HSBC vai orientar cada vez mais a sua atuação para um público de mais alta renda. “Com a consolidação bancária ocorrida aqui, temos que escolher os mercados em que vamos atuar e atender um público com interesses globais nos dá vantagem competitiva.”
O número de agências do banco será mantido ao redor de 900, mas neste ano o HSBC pretende fechar algumas deficitárias e abrir entre 20 e 30 agências do segmento Premier, que atende público com renda superior a R$ 8 mil mensais.
Na mesma linha, o banco lança ainda no primeiro trimestre o segmento Advance, que vai pegar pessoas com renda entre R$ 3,5 mil e R$ 8 mil. “Queremos pessoas na faixa etária entre 35 e 40 anos, em fase de acumulação, com potencial para se tornar Premier no futuro”, diz Engel.