O Brasil que queremos foi o tema da terceira mesa do 5º Congresso Nacional da Contraf-CUT, realizada na tarde deste sábado (7), em São Paulo. Coordenada por Roberto von der Osten, secretário de Relações Internacionais da Contraf-CUT, Adriana Nalesso, presidenta do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Edvaldo Barros, presidente do Sindicato dos Bancários de Campo Grande, e Jaqueline Perroud, do Sindicato dos Bancários de Brasília, a mesa contou com as participações de Esther Duek, professora de Economia da UFRJ, e Ladislau Dowbor, economista.
Dowbor apresentou seu livro “A Era do Capital Improdutivo”, no qual revela que o crescimento abissal das desigualdades, a ausência de limites para a depredação da natureza e o esvaziamento da política podem ser faces de um só fenômeno. A publicação mostra, por exemplo, que só as transações financeiras com “derivativos” – aquelas em que não se negociam mercadorias, mas apenas índices (a taxa de inflação, o preço de uma moeda, a cotação de uma commodity) atingiram 710 trilhões de dólares em 2013 – ou 9,6 vezes o PIB mundial naquele ano. A Era do Capital Improdutivo situa esta transição num conjunto de outras transformações civilizatórias marcantes, que se acentuam a partir dos anos 1950.
Apoiado num vasto estudo do Instituto Federal Suíço para Pesquisa Tecnológica – o renomado ETH –, Ladislau demonstrou que 147 grandes corporações (75% delas financeiras) controlam hoje, sozinhas, 40% do PIB do mundo. Numa espécie de “núcleo do núcleo” estão 28 “instituições financeiras sistematicamente importantes” (SIFIs, em inglês), cada uma das quais tem capital médio de US$ 1,8 trilhão (superior ao PIB do Brasil, a sétima economia do planeta).
O problema não é só o gigantismo. As megacorporações atuam em todo o mundo, enquanto os Estados-Nações são limitados por fronteiras. Todas mantêm sedes e filiais em “paraísos fiscais” (um capítulo do livro é reservado a examiná-los), onde podem articular oligopólios, evadir impostos ou praticar fraudes “livres” do constrangimento de governos ou Judiciários. Mais recentemente, diversos acordos comerciais permitem-lhes formar tribunais paralelos (Investor-State Dispute Settlement, ou ISDS, em inglês), nos quais podem exigir indenizações de Estados que adotem normas consideradas hostis a seus interesses (por exemplo, a redução da jornada de trabalho ou uma nova lei de proteção da natureza…).
O resultado é o esvaziamento rápido da democracia. Porque surgiu – acima dos Estados e com força superior à deles – uma nova esfera global de poder. Está inteiramente colonizada: em seu interior, o capital reina absoluto; não há eleições, parlamentos, governos escolhidos pela sociedade, transparência.
Para o autor, a resposta para o questionamento “O Brasil que queremos” passa por uma reflexão dos sindicatos dos bancários. “Nós que somos funcionários do Sistema Financeiro, como é que a gente faz para o sistema financeiro funcionar? Isso é a oportunidade de juntar os interesses de todos os trabalhadores do sistema, com os interesses da sociedade. Infelizmente, isso atualmente se divorciou das responsabilidades sociais. É muito importante fazer o encontro entre os funcionários que querem que o sistema funcione, com a população que quer usar o sistema e as empresas que querem poder recorrer a financiamentos. Precisamos de um sistema que tenha pé e cabeça. Porque do sistema financeiro vai depender se teremos dinheiro para saúde, para educação. Ou seja, tem que ter rédeas na economia, para que ela funcione, pois, atualmente, as famílias estão trabalhando para pagar juros aos bancos.”
Esther Duek começou sua apresentação afirmando que o processo do golpe, começou em 2013, por uma sequência de processos, que foi mais pelos acertos do que pelos erros.“O que estamos vivendo é uma luta de classes. Por isso, a igualdade e a inclusão devem estar no centro do objetivo e serem instrumento de crescimento do país. O sistema financeiro tem papel fundamental nisso. Desde 1980, há um aumento enorme de desigualdade.”
A professora lembrou que nos últimos anos o Brasil viveu um processo de crescimento. “Tivemos um ganho de distribuição de renda forte nesse período e sabemos que até 2003 as negociações salariais eram abaixo da inflação. De 2004 até 2014 as negociações aumentaram, ocorreram ganhos reais salariais.”
Esther afirmou também que o Brasil tem o maior dos créditos e o atual governo diz que os bancos públicos são os responsáveis pelas dívidas. “Os supostos crimes tinham a ver com os bancos públicos e a política fiscal, duas coisas que davam motor enorme para o desenvolvimento. O ataque foi frontal a isso. Quando eu tenho a redução de desemprego isso gera uma reação contra as finanças públicas, acelerando a economia. O ataque impediu que o governo atuasse.”