Greve dos metalúrgicos da Volks contra demissões continua no ABC

Paralisação completou quatro dias nesta sexta

Os 13 mil trabalhadores na Volks, em São Bernardo do Campo (SP), estão convocados para uma assembleia na próxima segunda-feira (12), às 7h, no pátio da montadora para definir os encaminhamentos à greve dos companheiros na fábrica, deflagrada em protesto contra 800 demissões efetuadas pela empresa.

A assembleia foi aprovada em plenária na manhã desta sexta (9) com os demitidos na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Em quatro dias do movimento, nenhum carro foi produzido. “E os próximos dias não serão diferentes”, avisou o secretário-geral do Sindicato, Wagner Santana, o Wagnão.

Os trabalhadores souberam da demissão por meio de telegramas recebidos às vésperas do final do ano passado, que falava para não retornarem aos seus postos de trabalho após o fim das férias coletivas, o que aconteceu na última terça.

A correspondência começou a ser enviada pela empresa dia 30 de dezembro e já chegou a 800 companheiros. Além deles, a ameaça de demissão existe para outros 1.300 trabalhadores, já que a Volks anunciou publicamente sua avaliação de que existem 2.100 excedentes na fábrica do ABC.

“A luta dos trabalhadores na Volks cresce a cada dia e a adesão interna é total”, contou a coordenadora da Comissão das Metalúrgicas do ABC e diretora executiva Ana Nice Martins de Carvalho, que acompanha a mobilização. “É gratificante ver que muitas mulheres estão participando do movimento”, prosseguiu.

O coordenador do Comitê Sindical de Empresa (CSE) na Volks, Reinaldo Marques da Silva, o Frangão, declarou que todos os representantes dos trabalhadores na Volks estão orgulhosos em fazer parte do CSE e da Comissão de Fábrica na montadora.

“Não existe nada mais importante do que o reconhecimento e sentimento de gratidão dos companheiros que aderiram à greve com garra e coragem”, disse, bastante emocionado, o dirigente. “Serão a nossa unidade e solidariedade que nos levarão à vitória”, concluiu Frangão.

Segundo os dirigentes, pelo acordo negociado em 2012 entre Sindicato e Volkswagen, não poderiam ocorrer demissões na fábrica até 2016.

Em junho de 2014, no entanto, representantes da montadora procuraram o Sindicato para renegociar o acordo, alegando que devido à queda nas vendas não tinham como manter o acordo. Assim as negociações de uma nova proposta foram iniciadas.

Em dezembro do ano passado, os trabalhadores rejeitaram a nova proposta, o que no entender do Sindicato manteve o acordo fechado em 2012. A empresa, no entanto, rompeu o acordo e demitiu os companheiros.

Plenária com demitidos no Sindicato

A plenária com os trabalhadores demitidos na Volks, em São Bernardo, lotou o terceiro andar da sede do Sindicato, na manhã desta sexta.

Durante o encontro foi aprovada por unanimidade a continuação do movimento e nova assembleia geral para encaminhamentos das atividades na próxima segunda, às 7h, no pátio da montadora.

Esposas, maridos, filhos e parentes dos demitidos, além de companheiros que mantiveram seus postos, compareceram em solidariedade e também participaram da plenária para acompanhar os encaminhamentos propostos.

“Todos estão alerta”, afirmou o diretor de Organização do Sindicato, José Roberto Nogueira da Silva, o Bigodinho. “Tentamos evitar este momento ao máximo, com negociações e a votação de uma proposta de acordo, mas, já que estas demissões aconteceram, vamos seguir mais uma vez em frente para garantir os direitos dos trabalhadores na montadora”, afirmou.

O representante do Sindicato dos Metalúrgicos de São Carlos e dirigente na Volks da cidade, Júlio Henrique da Silva, também trouxe seu apoio ao movimento. “Vamos ajudar no que for necessário”, declarou.

O que dizem os trabalhadores na Volks em São Bernardo

“A sensação de ser demitido é péssima, porque quando fui contratado a Volks me tratou a gente de maneira individual e para demitir é em massa, no coletivo, de maneira fria e impessoal, com um telegrama de desligamento em casa. Daí a gente chega na fábrica e percebe que a carteirinha está bloqueada e não pode nem pegar suas coisas no próprio armário. É uma vergonha. Por isso, eu e todos os companheiros temos que fazer nossa parte e lutar para garantir nossos direitos”.

Valdecir Bentran, na Ala 14, na Volks há 20 anos

“A empresa não teve a consideração em poupar, pelo menos, um de nós que temos um filho pequeno. Nós dois tivemos as carteirinhas bloqueadas, uma na segunda (5) outra na terça (6). O desespero e a ansiedade atormentam por começar o ano sem trabalho. Nossa esperança é que sejam revertidas estas demissões e assim possamos seguir honrando nossos compromissos sem problemas”.

Ana Paula Fundadoras, na Qualidade, há 7 anos na Volks, e Paulo Roberto Sanches, da Ala 14, há 8 anos na Volks

“Estamos dando um recado para fábrica, que pensou que era só demitir e todos aceitariam. Não. Vamos manter a luta junto ao Sindicato até a vitória. Estou em férias e a fábrica nem esperou eu voltar para comunicar meu desligamento. Mesmo doente, em um tratamento de câncer na garganta, mantenho meus compromissos e vou ao trabalho, mas é demitindo que a Volks responde aos meus esforços”.

José Roberto Diniz, na Ala 38, na Volks há 5 anos

“Desde 2010 tenho uma ordem judicial que inviabiliza minha demissão por problemas de saúde, o que não foi levado em consideração. Estou recebendo o apoio incondicional da minha família, tanto que a minha esposa fez questão de me acompanhar hoje na plenária porque esta situação atinge a todos. Fico revoltado pela maneira que a fábrica enxerga a gente, apenas como custo”.

Reinaldo José Campos Pereira, na Logística, na Volks há 25 anos, e sua esposa Evelin Cássia Campos

“Doei a vida inteira para esta empresa e, de repente, eu não sirvo mais para nada. Tenho restrição médica por problemas de saúde adquiridos na fábrica e nem isso foi considerado. Sabia que receberia o telegrama, pelo bem ou pelo mal. Enquanto isso, muito foi dito por colegas na fábrica pelo WhatsApp, que não tinham notícias concretas da fábrica”.

Aparecida Donizete da Silva, no Setor Vasilhame, na Volks há 29 anos

“Passei o Natal e o Ano Nono na expectativa de receber ou não o telegrama e com qual conteúdo. Quando a proposta foi rejeitada em dezembro passado, me recordei de imediato de 2001, quando mais de 3.000 cartas com aviso de desligamentos foram distribuídas. Com isso e pelas experiências vividas, já sabia que viria uma pressão muito grande. A gente tem que fazer um movimento mais inteligente possível para voltar a garantir os empregos de todos os companheiros”.

Max Queiroz, na Ala 17, na Volks há 25 anos, e sua esposa Anne Queiroz

“Foi um choque receber o telegrama, justamente no começo do ano, quando a gente tem que pagar IPVA, IPTU, cartão de crédito e tudo mais. Meu filho acabou de nascer e tudo fica incerto agora. Eu mantenho meu apoio à luta e todos os companheiros que, assim como eu, passam por este difícil momento”.

Emerson Barbosa Costarelli, pintor de cabine, não informou há quanto tempo trabalha na Volks.

“Eu não recebi o comunicado de desligamento, mas estou aqui em solidariedade a estes companheiros, pois historicamente os metalúrgicos do ABC participam de todas as lutas, inclusive contra as futuras ameaças que possam atingir a todos nós. Ninguém está a salvo”.

José da Silva, Ala 14, não informou há quanto tempo trabalha na Volks.

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