Foi graças à paralisação de 24 horas, no dia 30 de outubro, que os empregados da Caixa conquistaram a jornada de seis horas e a condição de bancário. Conhecer a história da mobilização é essencial, principalmente para os que ingressaram no banco mais recentemente
Há exatos 30 anos, os empregados da Caixa Econômica Federal inauguraram um novo tempo no que diz respeito à mobilização. Foi em 30 de outubro de 1985, data da greve histórica da categoria, quando todas as unidades do banco foram fechadas por 24 horas. A paralisação teve adesão de praticamente 100% dos trabalhadores, em todo o país, e consolidou o movimento organizado dos, hoje, bancários e bancárias da empresa.
Até então, os empregados da Caixa eram conhecidos apenas como economiários. E foi com base nessa injusta discriminação que surgiram as principais reivindicações da greve de 1985: a jornada de seis horas e a condição de trabalhador bancário, com direito à sindicalização. E a Fenae, que havia sido criada há 16 anos, em 29 de maio de 1971, se orgulha de ter sido uma das entidades protagonistas neste processo.
“Na greve histórica de 85, nossa categoria mostrou exatamente o que tem mostrado ao longo de todos esses anos. Que quando a gente se une, a busca por conquistas fica um pouco mais fácil. Há situações em que avançamos mais e outras em que avançamos menos. O mais importante, como diz o slogan da campanha que criamos, é que a luta não pode parar, em defesa dos trabalhadores e da própria Caixa”, diz o presidente da Fenae, Jair Pedro Ferreira.
Segundo a secretária da Juventude da Contraf-CUT, Fabiana Uehara Proscholdt é um grande orgulho a história de organização de luta dos empregados da CAIXA. “Temos muito o que comemorar e compartilhar com os que não vivenciaram essa grande conquista. E a luta não para. Ainda temos muito que avançar na luta pela valorização e direitos dos empregados da CAIXA”, ressaltou.
Fabiana Matheus, coordenadora da Comissão Executiva dos Empregados da Caixa (CEE/Caixa) e diretora de Administração e Finanças da Federação, também destaca a importância da mobilização. “Muita coisa melhorou na empresa nos últimos anos. Mas as condições nas unidades de todo o país estão muito longe das ideais, e um exemplo é a falta de contratações. O quadro de pessoal insuficiente e a política adotada pelo banco, inclusive, exige luta constante para que a jornada de 6 horas seja realmente respeitada”, afirmou.
Mesa unificada da categoria bancária
Em 2003, com a conquista da mesa unificada da categoria bancária, os empregados da Caixa passaram a assinar a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) e o Acordo Aditivo. Até então, os acordos coletivos eram debatidos e assinados pela Caixa e por uma entidade que não representava nem 10% da categoria. Os trabalhadores sequer eram consultados sobre os itens das propostas. Ao longo dos anos, graças à mobilização, ocorreram avanços significativos nos direitos e nas condições de trabalho. Foi instituída também uma mesa de negociação permanente, com representantes dos trabalhadores e do banco.
Publicações especiais
Em comemoração aos 30 anos da greve de 1985, a Fenae lançou um hotsite com a linha do tempo da mobilização que culminou com a conquista da jornada de seis horas e do direito à sindicalização. O endereço é o http://grevede85.fenae.org.br. Por meio do endereço, a Federação também quer receber depoimentos, fotos e vídeos. E não apenas de quem participou da paralisação de 24 horas, mas também de todos que têm algo a dizer sobre o fato.
Além disso, a próxima edição da revista Fenae Agora, que será publicada em novembro, trará um encarte especial com textos, entrevistas, depoimentos e fotos da greve histórica. Segundo Natascha Brayner, diretora de Comunicação e Imprensa da Federação, é essencial conhecer essa história. “Nesses 30 anos, o quadro de empregados da Caixa se renovou muito. Boa parte deles, hoje, tem até 10 anos de banco e não compreendem a importância da greve de outubro de 1985, que deixou um legado importante: a certeza de que a mobilização é indispensável para o fortalecimento do movimento da categoria”, frisa.
Algumas datas importantes de 1985:
– 6 de agosto: Dia Nacional de Luta. Empregados da Caixa distribuem cartas abertas à população e enviam telegramas ao Ministério da Fazenda.
– 11 de agosto: Paralisações de duas horas realizadas em agências de Brasília (DF) e do Ceará.
– 11 de setembro: Presidente da Fenae, José Gabrielense, recebe mensagem informando que o ministro da Fazenda havia se manifestado contrário às reivindicações da categoria.
– 13 de setembro: Cerca de 800 empregados da Caixa protestam e realizam uma passeata na Avenida Paulista, em São Paulo (SP).
– 19 e 20 de outubro: Realização do 1º Conecef, no qual mais de 500 pessoas aprovam a data de 30 de outubro para a greve de 24 horas.
– 30 de outubro: Greve histórica, quando todas as unidades da Caixa são fechadas.
– 4 de novembro: Caravanas de empregados da Caixa ocupam Brasília (DF). Pressionado, o deputado federal Pimenta da Veiga dá aval para o regime de urgência ao projeto de lei que estabelece a jornada de seis horas para a categoria.
– 28 de novembro: Projeto das seis horas é aprovado na Câmara dos Deputados. No mês seguinte, a proposta também passa pelo Senado Federal.
– 17 de dezembro: Presidente da República, José Sarney, sanciona a lei que garante a condição de bancário aos empregados da Caixa.