Grandes bancos dos Estados Unidos deixam crise financeira para trás

Dan Fitzpatrick e Michael Rapoport
The Wall Street Journal

Os grandes bancos americanos estão finalmente emergindo dos escombros da crise financeira, amparados por lucros crescentes, uma economia em recuperação e drásticos cortes de custos.

Analistas e executivos dizem que o pior já passou para J.P. Morgan Chase & Co., Bank of America Corp., Citigroup Inc., Wells Fargo & Co., Goldman Sachs Group Inc. e Morgan Stanley, que por cinco anos tiveram seu crescimento prejudicado por problemas como a desaceleração da economia, a crise de dívida da Europa e uma avalanche de novas regulamentações.

Juntos, os seis bancos tiveram um lucro total de US$ 76 bilhões em 2013, US$ 6 bilhões a menos que em 2006, ano em que os preços dos imóveis nos Estados Unidos alcançaram o nível mais alto da história, em meio a uma acelerada expansão econômica.

Os bancos “devem bater todos os recordes” de lucro em 2014, diz Gerard Cassidy, analista da RBC Capital Markets. A melhora dos resultados está sendo acompanhada por uma alta acentuada nas ações dos bancos. O Índice de Bancos KBW subiu 35% em 2013, superando o índice S&P 500 pelo segundo ano consecutivo. Neste mês, as cotações das ações tanto do J.P. Morgan quanto do Wells Fargo atingiram picos não registrados desde 2005.

Agora que suas ações subiram consideravelmente, os bancos precisarão ter um bom desempenho para mantê-las nesse nível.

Embora espere-se que os bancos lucrem mais ainda à medida que os juros sobem, o que amplia os ganhos com empréstimos, o retorno sobre o patrimônio, um indicador importante de desempenho, ainda está bem abaixo dos picos atingidos entre 2005 e 2007, uma defasagem que pode desagradar os investidores à medida que a economia acelera.

Os bancos ainda enfrentam muitas dificuldades, incluindo custos jurídicos mais altos decorrentes de vigilância mais intensa das autoridades. As despesas maiores de financiamento estão freando a demanda por hipotecas residenciais, grande fonte de lucros para alguns bancos em 2013. Além disso, vários bancos sofreram queda em operações de renda fixa, câmbio e commodities no quarto trimestre.

Apesar dos muitos desafios, os grandes bancos dos EUA estão começando a descobrir meios de elevar o faturamento. Os seis maiores bancos do país tiveram alta de 4% na receita em 2013.

Os bancos menores também estão se recuperando. O total dos lucros dos 6.900 bancos comerciais dos EUA deve repetir ou superar o recorde US$ 145,2 bilhões de 2006, segundo análise que o The Wall Street Journal fez dos dados do Federal Deposit Insurance Corp., órgão que garante depósitos bancários.

Os lucros gordos dos grandes bancos americanos derivam em parte da maior envergadura que ganharam desde a crise financeira. O Wells Fargo, que passou a ter presença nacional após a compra do Wachovia Corp., em 2008, teve em 2013 o maior lucro líquido dos seus 161 anos de história. Já o Bank of America, que aumentou de tamanho ao adquirir a firma de serviços financeiros Merrill Lynch & Co., em 2009, teve seu melhor ano desde 2007.

Outro fator que está impulsionando o crescimento dos lucros é a redução acentuada nas provisões para perdas futuras com empréstimos, possibilitada pela queda da inadimplência. J.P. Morgan, Bank of America, Citigroup e Wells Fargo cortaram US$ 15 bilhões em provisões em 2013, sendo US$ 3,7 bilhões no quarto trimestre. Esse dinheiro é somado diretamente ao lucro, impulsionando o resultado. A redução nessas provisões respondeu por 16% do lucro antes dos impostos desses bancos no período.

Alguns investidores, porém, não estão satisfeitos com o fato de os bancos continuarem dependendo tanto da melhoria das condições de crédito para aumentar os lucros. De fato, reguladores alertaram que as reduções nas provisões podem ter sido agressivas demais.

Mas os grandes bancos afirmam não precisar de tantas reservas numa economia mais saudável e que as regras contábeis atuais exigem essas medidas.

Ainda assim, as ações dos bancos tiveram um desempenho bem aquém do mercado como um todo desde a crise financeira. O retorno sobre o patrimônio vem sendo afetado pelas centenas de bilhões de dólares em capital adicional levantado para proteger os bancos de problemas futuros e cumprir novas regras.

O retorno sobre o patrimônio do Goldman, que atingiu um pico de 33% em 2006, caiu para 11% em 2013. A proporção foi ainda menor para o J.P. Morgan e o Bank of America.

Os bancos estão lutando para aumentar seus retornos. Os seis maiores eliminaram mais de 44.000 postos de trabalho no ano passado. O J.P. Morgan cancelou uma expansão que adicionaria 5.600 agências e, assim como o Morgan Stanley, está saindo da área de commodities físicas. Já o Goldman cortou no ano passado suas despesas com remuneração para 36,9% da receita total, o menor percentual desde 2009.

Agora, os bancos terão que provar que podem ganhar dinheiro com empréstimos e outras atividades em vez de liberar provisões, disse Justin Fuller, analista da Fitch Ratings. “Chegou a hora do trabalho duro.”

(Colaboraram Eyk Henning e David Enrich.)

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