Os grandes bancos devem voltar a exibir ganhos robustos no primeiro trimestre deste ano. Os resultados começam a ser divulgados na terça-feira (28), com o Santander. A alta dos lucros deve variar de 10% a 25%, segundo estimativas do Goldman Sachs obtidas ontem pelo Brasil Econômico . No caso do Banco do Brasil, o lucro contábil deve mais do que dobrar, por um efeito extraordinário: os R$ 3,2 bilhões recebidos da credenciadora de cartões Cielo pela sociedade em uma nova empresa de meios de pagamento.
Ganhos obtidos com juros, maior eficiência e excesso de provisões garantem os bons resultados – mas o segundo semestre é uma incógnita, diz Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating.
A situação é mais desfavorável ainda para os bancos menores, segundo Ceres Lisboa, vice-presidente da Moodys Investor Services. Em relatório divulgado ontem, ela diz que a qualidade dos ativos deve piorar e os bancos menores tem menos recursos para enfrentar essa piora.
Os bancos brasileiros ainda estão aproveitando as últimas rajadas de ventos favoráveis do ciclo anterior, mas devem começar a mostrar sinais dos ventos contrários ao longo dos próximos 18 meses, diz Macedo, do Goldman.
Rodrigues também espera que o primeiro trimestre venha bom, mas está menos otimista que Macedo. Para ele, a alta do lucro do Bradesco, por exemplo, deve ficar em torno de 12% no primeiro trimestre, passando a R$ 3,8 bilhões. Para o Goldman, a alta será de 20% (ver gráfico a página ao lado).
Para o ano todo, os resultados dos bancos devem crescer, em média, de 8% a 10% sobre 2014, segundo Rodrigues.
Os índices de eficiência estão melhorando. Com PIB mais fraco e retraído, é esperado um aumento da inadimplência. Nesse ambiente, os bancos estão cautelosos em emprestar e preocupados em reduzir despesas, diz Rodrigues.
O executivo lembra que a rentabilidade também vem aumentando. Para 2015, o presidente da Austin acredita que a rentabilidade vai ficar igual a de 2014, depois de crescer em 2013. Para o saldo do do crédito, espera aumento de 10% a 12% em 2015.
Para bancos pequenos e médios a situação é diferente. Eles tem menor eficiência e não conseguem, como os grandes, ganhar com a alta dos juros em grandes volumes de operações de tesouraria. Os bancos médios tem funding mais caro e restrições a captações externas, diz, acrescentando que em um momento de economia desaquecida como o atual, crescem as dificuldades desses bancos para vender carteiras aos bancos maiores e levantar recursos.
Ceres, da Moodys, diz que os números ainda estão bons e sob controle, conforme os dados de fevereiro do Banco Central. Hoje, o governo divulga os dados relativos a março.
A Moody´s ressalta, porém, que apesar da maioria dos grandes bancos estarem em condições de enfrentar um aumento da inadimplência, dois deles – HSBC e Citi – devem apresentar prejuízos no Brasil.
Nossa análise do cenário mostra que, em uma situação altamente estressado, bancos públicos e de médio porte são mais vulneráveis a um salto em créditos de liquidação duvidosa, diz Ceres. No nosso cenário mais provável o provisionamento de despesas para fazer frente a empréstimos não honrados pelos devedores seria, em média, 26% maior em 2015 do que em 2014, afirma. Segundo a Moodys, quatro bancos públicos e vários bancos de médio porte relatariam resultados negativos.
A agência explica que os bancos médios são mais sensíveis devido a sua capacidade de gerar resultados limitados e seu core business voltado a concessão de empréstimos pequenas empresas, o que tende a deixá-los mais expostos a crises econômicas. Os bancos públicos, que cresceram rapidamente nos últimos anos, podem ver os custos do crédito exceder o lucro em 2015 conforme o crescimento desacelera e as taxas de inadimplência aumentam.
Macedo, do Goldman, prevê que ao longo deste ano a inadimplência vai aumentar, exigindo por consequência um maior provisionamento. O crescimento mais fraco dos empréstimos é outro tema a monitorar, diz.
No caso do BB, mesmo excluindo o efeito extraordinário dos R$ 3,2 bilhões pagos pela Cielo, o lucro cresceria 16%, segundo as previsões do Goldman. Macedo espera um aumento forte da receita líquida com juros (42,6%), puxado pela alta da taxa básica.
Além disso, o banco de investimentos projeta uma estabilidade dos custos, que devem continuar crescendo menos do que a inflação no BB. Além disso, as operações de seguros, reunidas na BB Seguridade, seguem reforçando os ganhos do banco no trimestre.
Para o Itaú, o Goldman atribui a alta de 16,9% do lucro, para R$ 5,61 bilhões no primeiro trimestre, ao aumento das receitas operacionais. Boa parte desse aumento, por sua vez, deve vir da redução de mais de 18% das despesas.
No Bradesco , segundo o Goldman, as receitas líquidas com juros devem permanecer sólidas – o banco também deve se beneficiar de Selic em alta e spreads idem. Contudo, as provisões já devem ser reforçadas no primeiro trimestre devido, segundo Macedo, a problemas com empréstimos a grandes empresas.
Para o Santander a previsão é semelhante, embora o lucro deva crescer menos, apenas 8,4%, para R$ 1,55 bilhão.