Jornalista analisa divulgação seletiva de nomes na lista do HSBC na Suiça
Luis Nassif
A primeira desculpa de Fernando Rodrigues para não divulgar nomes da lista do HSBC é que não queria cometer injustiças. Por isso, selecionou poucas centenas de nomes – entre quase 8 mil – e remeteu para a Receita Federal (!).
Na verdade, amarelou ao se deparar com nomes delicados e suas limitações jornalísticas impedirem de montar uma estratégia de divulgação politicamente palatável para os veículos de mídia.
Aí entra O Globo, que faz jornalismo enviesado mas, enfim, sabe fazer jornalismo.
O que interessa na lista é o embricamento entre crime organizado, lavagem de dinheiro e sistema político e financeiro brasileiro – os políticos e financistas que se aliaram no sistema de caixa 2 desde as incursões pioneiras de Marcelo Alencar com o Garantia, ainda nos anos 80, ou do Opportunity nos anos 90. É por aí que se levantará a aliança financistas-políticos-doleiros.
O resto é perfumaria.
O que O Globo vem fazendo – com Rodrigues a reboque – é aplicar o princípio do biquíni – de mostrar tudo, menos o essencial. Divulga com estardalhaço nomes ligados ao grupo ou à mídia, mostrando com isso isenção, aliás uma falsa isenção porque não há nada de mais significativo nas informações divulgadas, a não ser contas abertas e fechadas há décadas.
A primeira leva de nomes é de jornalistas e proprietários de veículos flagrados em contas não comprometedoras. Até Horácio de Carvalho – dono do Diário Carioca – falecido há décadas, foi lembrado. Os demais eram titulares de contas já fechadas, muitos deles já falecidos. De novo, apenas Luiz Frias.
A segunda rodada foi com personagens de grandes golpes com dinheiro público.
Na terceira rodada, enfia na relação de suspeitos seus artistas, usando como álibi para esse carnaval o fato de terem captado recursos através da Lei Rouanet. O que as denúncias insinuam? Que o dinheiro foi desviado para paraísos fiscais? A prestação de contas é tão severa que dois artistas que não deram conta do recado – Norma Bengel e Guilherme Fontes – tiveram suas vidas quase liquidadas.
Valendo-se do álibi inicial de Rodrigues – de poupar inocentes -, qual a justificativa de colocar Tom Jobim, Jorge Amado e Paulo Coelho na lista de suspeitos, sabendo-se que são autores que recebem direitos autorais de todos os países do mundo? Ou então expor suas próprias estrelas à suspeita?
Se sonegaram, que paguem.
Mas o jornal os está remetendo ao altar de sacrifícios, com a suspeita de terem desviado dinheiro público, apenas para desviar o foco de personagens políticos e financeiros que certamente compõem a lista – já que existe uma relação ampla entre os nomes até agora divulgados e aqueles que constavam da CPI do Banestado.