Fusão é maior responsável por desgaste psicológico, diz professora da PUC

A maioria dos jovens trabalhadores quando ingressa para trabalhar numa instituição financeira tem sonhos, ambições, pensa em sucesso. Na cabeça desse novo bancário não existem problemas como transtorno obsessivo compulsivo, depressão, transtorno bipolar, síndrome do pânico e outros problemas que qualquer ser humano está sujeito a enfrentar, principalmente quando trabalha em um ambiente hostil, com cobranças diárias por metas praticamente inatingíveis como acontece nos bancos.

Se a situação é grave, nos processos de fusão entre as instituições financeiras é ainda pior. A afirmação é da professora Renata Paparelli, psicóloga, docente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e coordenadora do Grupo de Acolhimento ao Desgaste Mental no Trabalho Bancário, promovido pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo em parceria com a Faculdade de Psicologia da PUC-SP desde 2008.

Renata falou aos trabalhadores durante o debate Desgaste Mental na Categoria Bancária: Fatores Determinantes e Formas de Enfrentamento, realizado no Auditório Amarelo do Sindicato na quarta-feira 28.

“Notamos que é muito comum a saúde mental ser abalada ou o ápice do problema se dar durante processos de fusão”, disse ao apresentar relatos comoventes da vida de bancários adoecidos, resultado dos encontros do grupo. Segundo o estudo, práticas antiéticas, assédio moral, obrigação por realizar vendas casadas e pressão por metas estão entre os grandes fatores que contribuem para o desgaste mental.

A secretária-geral do Sindicato, Raquel Kacelnikas, alertou os trabalhadores para problemas de assédio tanto em bancos públicos como em instituições privadas. “Esse é um assunto central na nossa categoria e nos preocupa muito. Mais que conferir o nosso diagnóstico, esse Sindicato tem o papel de ser um ator social de interferência efetiva na relação capital x trabalho, é uma luta contínua”, disse.

Já o secretário de Saúde do Sindicato, Walcir Previtale, relembrou a importância do combate às metas abusivas e reforçou que essa é uma prioridade eleita pelos próprios bancários para a Campanha Nacional Unificada 2010. “Esta é a transformação social que queremos tanto conquistar com nossa luta.”

O trabalho promovido pelo Sindicato e pela PUC-SP pretende não apenas acumular conhecimento, mas também buscar uma ação transformadora, para que os adoecidos se sintam acolhidos e encontrem caminhos para sair do isolamento. “É preciso identificar a relação entre o problema, no caso o desgaste mental, e o trabalho”, explicou a professora. Para ela, a maioria dos bancários que passaram pelo grupo sabem relacionar o trabalho com seu problema de saúde, porém, se sentem culpados, o que é um equívoco.

Renata destaca que entre os principais fatores que fazem desencadear o desgaste mental está o rebaixamento de cargo ou salário, mudança na chefia, humilhações e o individualismo e competitividade que está principalmente na rotina de “bater” metas que não são coletivas. Outra situação responsável pelo agravamento é a passagem pelo INSS. A maior parte dos que foram ao grupo de acolhimento relataram situações de constrangimento e humilhação em perícias médicas.

Coletivismo e esperança

Renata Paparelli afirmou ainda que o grupo fez com que bancários minimizassem seu sofrimento e encontrassem opções de enfrentamento, como perceber que não estão sozinhos. Puderam, então, formular coletivamente formas de protesto e perspectivas. A psicóloga relatou ainda que a sensação de alívio por estarem amparados e terem com quem desabafar resultou numa melhora, tudo por conta de uma micro rede de pessoas com o mesmo problema, com o apoio do Sindicato e do grupo de pesquisa da PUC.

Ao final do debate, a frase da cipeira Denise, do Complexo São João do Banco do Brasil, justificou a luta continua do Sindicato em busca de mais qualidade para a categoria no local de trabalho e a insistência nas mesas de negociação ou nas ruas para que os bancos invistam no combate e prevenção ao assédio moral, LER/Dort e qualquer doença ocupacional: “O Sindicato é um espaço de luta coletiva.”

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