FSM: momento é oportuno para mudança

São Paulo – Em meio aos efeitos da crise econômica e assistindo aos anúncios de injeções de bilhões de dólares para restaurar a economia mundial, centenas de participantes do Fórum Social Mundial (FSM) discutiram propostas alternativas ao modelo econômico vigente. Entre as iniciativas sugeridas estão a elevação do salário mínimo, a ampliação de políticas de proteção social e a defesa do serviço e dos bens públicos. Os temais centrais giram em torno de comunicação, ecologia, direitos trabalhistas, criminalização dos crimes de guerra, além da crise econômica.

Os bancários defenderam, em oficina realizada na tarde de quinta-feira, dia 29, a necessidade de regulamentação do Sistema Financeiro Nacional (SFN) como forma de combater a concentração de ativos financeiros nos bancos e de ampliar a fluidez do crédito voltado para o desenvolvimento sustentável, com emprego de qualidade e geração de renda.

Poucas horas depois, o presidente Lula defendeu o mesmo, no encontro entre participantes do FSM e cinco presidentes de países da América do Sul. Ele disse diversas vezes que o Estado tem de continuar investindo no país e que o emprego em última análise é que vai tirar o Brasil da crise. Para Lula, a crise aconteceu por causa da falta de controle sobre os mercados financeiros.

“Parecia que eles eram infalíveis e nós éramos incompetentes. A crise não é nossa, é deles. Venderam a lógica de que o Estado não prestava pra nada e que o ‘deus mercado’ ia desenvolver o país e fazer justiça social. Esse ‘deus mercado’ quebrou por falta de controle, por causa da especulação. O Estado é que tem que construir o país e não o mercado”, disse Lula. Para o presidente, esta é uma oportunidade de os paises emergentes se desenvolverem por meio de uma política de transferência de renda.

Essa avaliação também foi feita pelos bancários e outros participantes do Fórum: esse é um momento ímpar que precisa ser aproveitado para criar alternativas e construir políticas públicas e assim ganhar mais autonomia, com o aumento do uso de moedas nacionais pelos países emergentes para comércio internacional e desenvolvendo as relações de blocos regionais.

Lula defendeu, ainda, que a reunião do G20 marcada para abril, em Londres, dê passos rumo à regulamentação do sistema financeiro e que haja elos com a produção. “A crise é uma oportunidade para a gente construir algo diferente, para a gente discutir o mercado financeiro, que não pode estar descolado do setor produtivo.”

Os bancários avaliam que o governo agiu de forma rápida para combater os efeitos da crise por meio das medidas provisórias 442 e 443 que permitiram a compra de carteiras de crédito e redução dos depósitos compulsórios para que não faltasse crédito no país, mas errou por não impor contrapartidas sociais aos bancos, como a manutenção das operações de crédito e do nível de emprego.

O presidente do Sindicato de São Paulo, Luiz Cláudio Marcolino, lembra que a necessidade de regular o Sistema Financeiro Nacional (SFN) é defendida há muito tempo pelos bancários como forma de controle e fiscalização para evitar a especulação financeira e promover o desenvolvimento sustentável.

Ele destaca que a categoria promoveu uma série de ações, entre elas uma maratona no Congresso Nacional para exigir que os recursos públicos liberados para as empresas tenham contrapartidas sociais, como a preservação dos empregos. “O grande desafio continua sendo esse, da criação de contrapartidas sociais. Cabe ao movimento sindical resistir, mobilizar e negociar alternativas à crise sem precarizar empregos e direitos”, afirmou Marcolino.

Ato Político – A nona edição do FSM entrou para a história como a que mais reuniu chefes de estado. Enquanto Doha explicava a ausência do presidente norte-amerciano, Barack Obama, cinco presidentes de países da América do Sul (Brasil, Venezuela, Bolívia, Equador e Paraguai) prestigiavam o FSM, um recado claro de qual caminho pretendem seguir, em uma América Latina que nunca contou com tantos presidentes de esquerda.

Críticas – O FSM também se encerra com a cobrança de que os seis dias de atividades não se resumam a debates ou atos políticos, mas que as propostas sugeridas sejam colocadas em prática e não deixem que o evento mundial seja visto com descrença.

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