Sujos de lamas e carregando um caixão, dezenas de pessoas ocuparam a entrada da Vale, na manhã desta sexta-feira (13), em Carapina (ES), em de protesto contra o crime ambiental ocasionado pelo rompimento das barragens da Samarco/Vale, em Mariana/MG. A ação teve início às 5h30 e chamou a atenção dos trabalhadores que chegavam à empresa. Uma tragédia anunciada, o rompimento das barragens não foi acidente e vitimou centenas de famílias e o ecossistema das regiões por onde a lama de resíduos passa.
O ato foi organizado pela Frente Capixaba de Lutas, formada por organizações e movimentos sociais e sindicais do Estado e serviu também como mobilização para novo ato que será na segunda-feira, 16, a partir das 17 horas, com concentração na Ufes, em Goiabeiras. No protesto desta manhã, uma performance teatral foi realizada para mostrar as trágicas consequências do rompimento das barragens. Os números oficiais registram 637 pessoas atingidas diretamente, oito mortos, 22 desaparecidos. No entanto, o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB-MG), afirma que mais de 3 mil pessoas estão desabrigadas.
O rompimento dessas barragens foi um crime ambiental sem precedentes que comprometeu em absoluto a existência do nosso Rio Doce e que levou diversas vidas. Realizamos o ato em protesto contra esse crime e também com o intuito de dialogar com os trabalhadores da Vale”, destaca o militante das Brigadas Populares e mestrando em Políticas Sociais, Sammer Siman.
Não há indenização e multa que paguem pelas vidas ceifadas, pela perda do patrimônio histórico, cultural e pela morte do Rio Doce, da fauna e flora das regiões atingidas. Além da crise instalada em diversos municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo, os trabalhadores da Samarco/Vale também são penalizados, e já enfrentam o medo da demissão e do desemprego.
Tragédia anunciada
A irresponsabilidade da empresa, a negligência do poder público e a ganância pelo lucro vitimaram a população e o ecossistema. E essa era uma tragédia anunciada. Em 2013, o Ministério Público mineiro já havia indicado o risco de rompimento e impôs várias condições para a renovação da licença de concessão da barragem. Em 2014, um levantamento da Fundação Estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais apontou que 40 barragens de rejeitos da região estariam de alguma forma sem segurança atestada.
Mesmo assim, a empresa continuou atuando, beneficiada pela flexibilização das leis ambientais, pelo descontrole da mineração no Brasil, pela negligência do poder público e pelas relações inescrupulosas entre empresas e políticos, que têm suas campanhas financiadas por grandes empresas como a Samarco/Vale. Nas últimas eleições, a Vale doou um total de R$ 22.650.000,00 para diversos partidos políticos. Dilma e Aécio tiveram entre 6% e 8% do total da receita de suas campanhas oriundas de mineradoras, dentre elas a Vale.
O governo Paulo Hartung, principal incentivador dos grandes projetos no Espírito Santo e aliado das elites industriais, ainda não se posicionou claramente sobre o ocorrido. O silêncio do poder público revela de que lado está o governo. Não, não foi acidente e a população e os trabalhadores da Samarco/Vale não devem pagar por esse crime.
A Frente Capixaba de Lutas reivindica:
• Responsabilização completa da Samarco/Vale
• Negociação coletiva com o envolvimento das famílias atingidas.
• Paralisação imediata dos processos de licenciamento de construção e manutenção de barragens.
• Realização de consulta popular prévia para empreendimentos que interfiram no meio ambiente na dinâmica de comunidades.
• Que as mineradoras e demais empresas que exploram recursos naturais sejam 100% públicas com controle social e popular.