Embora o governo conservador do presidente Nicolas Sarkozy tenha afirmado que não dará o braço a torcer, os sindicatos franceses venceram nesta terça-feira (12) uma arriscada aposta na luta contra a reforma das aposentadorias. Com mobilização recorde em uma nova jornada de greves e protestos, o movimento anunciou a presença de 3,5 milhões de pessoas nas 244 manifestações convocadas em todo o país.
Já se trata de um momento histórico. “Foi a maior jornada de protestos” desde o começo da mobilização, disse Bernard Thibault, secretário-geral da CGT, maior sindicato da França. A mobilização supera as previsões anunciadas três jornadas de luta anteriores convocadas a partir de setembro – que iam de 2,5 milhões a 3 milhões.
O Ministério do Interior atribuiu a resposta da população nesta terça-feira à “forte presença de estudantes secundaristas” nas marchas. Mesmo acuado pelo povo, o governo Sarkozy diz descartar novas concessões nessa reforma, a principal da gestão, repleta de pontos mais polêmicos.
Uma das medidas inaceitáveis é aumentar de 60 para 62 anos a idade mínima legal para se aposentar e de 65 para 67 anos para a obtenção de uma aposentadoria completa. A reforma já foi aprovada no Senado por 174 votos contra 159.
O Executivo modificou alguns pontos do projeto inicial, ao conceder ajustes em favor das mães de três filhos, daqueles que começaram a trabalhar jovens ou que realizam trabalhos difíceis. Mas o governo declara que “está decidido a levar até o final” esta reforma supostamente “razoável, justa e indispensável”, conforme o despautério pronunciado nesta terça-feira pelo primeiro-ministro François Fillon aos deputados.
Trabalhadores ferroviários e funcionários públicos e do setor privado, assim como jovens professores e até bombeiros engrossavam a manifestação parisiense desta terça. O protesto partiu às 14 horas locais de Montparnasse em direção à Praça da Bastilha. Estavam presentes na marcha milhares de estudantes do ensino secundário – um fator de peso na mobilização social contra a reforma das aposentadorias.
“Se todo mundo se mobilizar, algo vai acontecer”, afirmou Louise, de 15 anos, estudante no famoso Liceu Victor Hugo. A alguns metros, Isabelle Reigner, professora de História de mais de 50 anos, disse acreditar que “esta mobilização mude alguma coisa. Espero a anulação da lei”.
Apoiadas por 69% dos franceses, segundo uma pesquisa do instituto CSA, as greves desta terça-feira tiveram uma adesão de 17% a 53% no setor público e foram prolongadas no transporte ferroviário, uma das categorias mais ativas. Para esta quarta-feira (13) estão previstas mais assembleias gerais, antes de uma nova jornada de manifestações no sábado.
No aeroporto Roissy-Charles de Gaulle, 30% dos voos foram cancelados. Em Orly, são 50% cancelamentos, segundo a Direção Geral de Aviação Civil (DGAC). Em outras áreas estratégicas, 11 das 12 refinarias da França estão em greve, que também teve adesões importantes nos setores portuário, químico, energético e metalúrgico.
“Peço ao governo que mostre responsabilidade. Sua teimosia só leva ao risco de um confronto”, disse a primeira secretária do Partido Socialista, Martine Aubry, que voltou a pedir a retirada do projeto e a realização de negociações. O governo prevê que a reforma será aprovada definitivamente pelo Parlamento antes do final de outubro. Seu desenlace pode ser crucial para eventuais planos de reeleição de Sarkozy em 2012.