Agências internacionais
Valor Econômico
O novo governo socialista da França determinou um corte nos salários dos CEOs de todas as companhias controladas pelo Estado. Entre os principais atingidos estarão os executivos-chefes da EDF e da Areva, ambas ligadas à produção de energia nuclear, que poderão ter o salário cortado em 70% e 50%, respectivamente.
Em uma entrevista publicada no site da revista “L’Express”, o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault disse que os salários dos CEOs passarão a ter um teto equivalente a 20 vezes a remuneração mais baixa entre todos os funcionários da empresa. Com um apelo ao “patriotismo” dos executivos neste momento de crise econômica, o governo pretende aplicar a medida aos contratos já existentes.
O salário mínimo da França é de 16,8 mil de euros anuais, o que implica, de acordo com a proposta governamental, um limite máximo de 336 mil de euros (cerca de R$ 840 mil). Se a medida for efetivada, derrotando eventuais contestações na Justiça, serão afetados também, entre outros, os CEOS da Aeroports de Paris e da La Poste, o serviço de correio francês.
Henri Proglio, o executivo-chefe da EDF, ganhou 1,6 milhão de euros em 2011. A Aeroports de Paris pagou a Pierre Graff 736 mil de euros. Já Luc Oursel, da Areva, e Jean-Paul Bailly, da La Poste, receberam 679 mil de euros e 626 mil de euros, respectivamente.
Na semana passada, Proglio, de 62 anos, disse a acionistas que o seu salário é determinado por “critérios objetivos”, incluindo resultados e produção de energia nuclear. Ele comanda a EDF desde novembro de 2009, quando foi nomeado pelo então presidente Nicolas Sarkozy.
Proglio ficou sob ataque durante a recente campanha presidencial, quando assessores do presidente François Hollande questionaram o apoio do CEO a Sarkozy, afirmando que suas atitudes antes da votação foram “totalmente anormais”. A equipe de Hollande também definiu os salários dos principais diretores da empresa como “escandalosos”. O Estado detém 84% da EDF, cujas ações se desvalorizaram 39% no ano passado.
Ontem também, em outra ação para limitar os salários de alto nível das estatais, o governo anunciou que irá se opor ao pagamento de uma indenização de ? 400 mil a Pierre-Henri Gourgeon, ex-CEO da Air France-KLM.
O pagamento para Gourgeon, que se demitiu em outubro, já foi aprovado pelo conselho executivo como compensação por uma cláusula de quarentena em seu contrato, que o proíbe temporariamente de trabalhar em uma empresa concorrente após seu desligamento.
No entanto, o ministro da Recuperação Industrial, Arnaud Montebourg, disse que o representante do governo, que detém 15,9% da companhia aérea, votará contra a compensação na reunião de acionistas marcada para hoje. “Isso se chama decência em pagamentos”, afirmou Montebourg.