TONI SCIARRETTA
da Folha de S. Paulo
Com o aumento da parcela não-remunerada do compulsório, o Banco Central usa, segundo analistas, o seu melhor argumento para estimular os bancos a colocarem dinheiro “empoçado” na economia: o custo.
Dada a falta de liquidez, os grandes bancos se recusavam a comprar carteiras de bancos menores -com retorno anualizado em torno de 21% (150% do CDI)- para deixar, confortavelmente, o dinheiro no “over” com rendimento próximo da Selic, mantida em 13,75% -ou seja, o banco se recusava a ganhar 7,25 pontos para assumir risco. Com a mudança, a atratividade do negócio explode de 7,25 pontos para até 21 pontos.
Para Armando Castelar, economista da Gávea Investimentos, a medida tem o potencial de se tornar uma das mais efetivas já adotadas pelo BC para estimular a retomada do crédito e da compra de carteiras.
“É uma medida bastante forte e terá um impacto significativo. Não significa que todo esse dinheiro vá ser emprestado, mas certamente vai fazer com que a coisa aconteça com mais intensidade”, disse.
Segundo Castelar, parte do problema que dificultava a venda de carteiras é o preço. O banco vendedor queria uma taxa alta, e o comprador se dispunha a desembolsar o menos possível. “Agora, o BC diz ou é [retorno] zero ou compra carteira.”
Para João Augusto Salles, analista da Lopes Filho, o governo está adotando as medidas possíveis para fazer o dinheiro voltar a circular. “Na prática, o que o BC está fazendo é ampliar o custo do depósito compulsório”, disse.