Folha: Lula eleva pressão no BC por corte de juro

FOLHA DE SÃO PAULO
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai retomar com mais força as pressões para que o Banco Central diminua a taxa básica de juros, a Selic, hoje em 13,75% ao ano. Apesar de já esperar a decisão do BC na quarta-feira, de manutenção dos juros, Lula não ficou satisfeito.
A Folha apurou que o presidente queria um sinal político do BC, com um viés de baixa na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). Ou seja, manteria a taxa, mas deixaria claro que poderia fazer uma redução antes de 45 dias, o intervalo entre as reuniões do órgão do BC que fixa a Selic.

Lula avalia que o Banco Central assumiu uma posição conservadora no momento de crise e tem ficado incomodado com as notícias de que os bancos centrais de outros países baixam os juros. Para Lula, o BC brasileiro está na contramão dos bancos análogos.

Segundo a Folha apurou, se o BC insistir numa política monetária conservadora no momento de crise, Lula poderá voltar a pensar na substituição do presidente da instituição, Henrique Meirelles. No início do ano, Meirelles esteve a um passo de deixar o governo.
Lula autorizou que o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, seu conselheiro informal, fosse convidado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para substituir Meirelles. A dúvida de Belluzzo e o agravamento da situação econômica seguraram Meirelles no posto.

Obviamente, é um complicador substituir Meirelles no meio da tormenta, mas Lula teme que a manutenção dos juros num patamar alto possa impactar as taxas de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), comprometendo a popularidade presidencial.

Lula deseja manter a economia sólida para vitaminar as chances de eleger o sucessor em 2010. O presidente já disse a aliados que deseja que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, seja a candidata.

O plano A de Lula é fazer com que o próprio Meirelles conduza uma retomada do processo de queda dos juros. Nos bastidores, porém, o presidente do BC tem resistido.

Apesar de o Copom ter tomado por unanimidade a decisão de manter os juros em 13,75%, havia divisão na diretoria do BC nas últimas semanas. Meirelles está aliado a um grupo mais conservador, que cogitou até mesmo uma elevação. Mas a piora da crise internacional no último mês e a pressão do Palácio do Planalto contra a elevação da Selic enfraqueceram esse grupo.

Há uma outra ala do Banco Central mais afinada com a Fazenda, de Mantega. É a de Alexandre Tombini, diretor de Normas e Organização do BC. Esse grupo tem uma avaliação de que a crise econômica internacional mudou o cenário e de que os juros brasileiros já estão num patamar suficientemente alto para combater uma eventual alta inflacionária.

Mais: na avaliação de Mantega, compartilhada por Lula, a desaceleração da economia brasileira em decorrência do menor avanço mundial já será suficiente para conter eventuais pressões inflacionárias por conta do câmbio. O real se desvalorizou em relação ao dólar, o que tende a gerar um efeito negativo na inflação.

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