FOLHA DE SÃO PAULO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Puxada pelas operações com empresas, a inadimplência nos empréstimos bancários subiu pelo sétimo mês seguido e chegou ao nível mais alto em nove anos, segundo dados do Banco Central. Em junho, os atrasos superiores a 90 dias nos pagamentos das prestações atingiam 5,7% da carteira de crédito das instituições financeiras, patamar que não era alcançado desde setembro de 2000.
Nos financiamentos destinados a pessoas físicas, porém, a inadimplência ficou estável em 8,6%. Já nos créditos para empresas, essa taxa subiu de 3,2% para 3,4% entre maio e junho. Em dezembro do ano passado, o nível de atraso nas transações com pessoas jurídicas estava em 1,8%.
Os números se referem apenas às operações de crédito comercial, ou seja, não incluem empréstimos cujas taxas de juros são controladas pelo governo, como no caso dos financiamentos do BNDES. Ainda assim, os dados indicam que o mercado de crédito para as empresas ainda não está totalmente normalizado.
No mês passado, o volume de crédito comercial destinado pelos bancos a pessoas jurídicas somava R$ 383 bilhões, uma queda de 2,1% acumulada no ano. No mesmo período, os empréstimos a pessoas físicas registraram expansão de 8,1%.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que a dificuldade das empresas em obter financiamentos no mercado é parcialmente amenizada por empréstimos direcionados de bancos oficiais como o BNDES, cuja carteira de crédito cresceu 5,8% no primeiro semestre.
O problema, nesse caso, é que o BNDES foca sua atuação em empresas de maior porte, o que, ao menos em tese, deixa as companhias menores em dificuldade por dependerem mais do crédito oferecido pelos bancos privados.
Normalizar operações
Segundo Lopes, essa situação deve começar a melhorar daqui para a frente à medida que pequenas e médias instituições financeiras consigam normalizar suas operações de crédito para atender seus clientes pessoa jurídica.
Para o economista Marcelo Moura, professor do Insper, o recente aumento na inadimplência não chega a preocupar por causa dos sinais de retomada do crescimento da economia -o que significaria que pessoas e empresas devem recuperar suas finanças e voltar a pagar em dia seus compromissos. “Os dados de inadimplência são muito defasados, pois tratam de atrasos superiores a 90 dias. Os bancos já estavam percebendo esse movimento e vinham se preparando”, diz.
Moura afirma ainda que o aumento nos atrasos não deve trazer problemas para as instituições financeiras. “A inadimplência não é alta a ponto de levar à insolvência [dos bancos]. O “spread” ainda é suficientemente alto para garantir uma rentabilidade elevada [do setor financeiro].”
“Spread” é o nome dado à diferença entre os juros que os bancos pagam para captar dinheiro no mercado e a taxa cobrada nos financiamentos concedidos a seus clientes. Em junho, o juro médio cobrado nos empréstimos estava em 36,7% ao ano, dos quais 27,2 pontos percentuais correspondem ao “spread”.
Essa diferença serve para cobrir custos dos bancos, além de ajudar a compor a margem de lucro do setor. Apesar da queda ocorrida nos últimos meses, o “spread” bancário continua acima do nível observado antes do agravamento da crise: em setembro de 2008, estava em 26,4 pontos.