FOLHA DE SÃO PAULO
O governo americano prepara o resgate do Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimento dos EUA, negociando sua venda para um consórcio formado por várias instituições privadas, disse ontem o jornal “Washington Post”.
Os detalhes do acordo ainda não foram finalizados, mas a expectativa é que ele seja anunciado neste final de semana.
Em março, o Departamento do Tesouro e o Fed (o BC dos EUA) montaram a venda do Bear Stearns para o JPMorgan, mas, segundo o “Wall Street Journal”, a ajuda governamental ao Lehman não seria nos mesmos moldes. No domingo passado, o governo lançou um pacote de ajuda que pode chegar a US$ 200 bilhões para resgatar Fannie Mae e Freddie Mac, as duas gigantes do mercado de hipotecas.
Além da ajuda do governo, o Lehman Brothers já está negociando com várias instituições a sua venda, segundo fontes envolvidas nas negociações. O Bank of America, o HSBC e outros bancos estrangeiros estariam entre os interessados.
Anteontem, o Lehman disse que desejava negociar a maior parte da sua divisão de gerenciamento de investimentos, mas a necessidade de vender toda a instituição se intensificou depois que as suas ações caíram ontem 41,79%. Apenas nesta semana, os papéis do banco se desvalorizaram em 73,95%. Segundo a agência Moody’s, ele precisa encontrar “um forte parceiro financeiro”. Bancos de investimento são instituições especializadas em operações como aquisição de títulos e não atuam no varejo.
Apesar de as ações do Lehman registrarem mais um dia de forte baixa, foi a notícia do possível negócio que mudou o rumo das Bolsas americanas. Os mercados abriram o pregão com queda expressiva e se recuperaram durante o dia, mas, após a notícia, a valorização se intensificou ainda mais. O índice Dow Jones, o principal da Bolsa de Nova York, subiu 1,46%, e o S&P 500, 1,38%.
Várias instituições já começaram a analisar ontem o balanço do Lehman Brothers, mas não está claro ainda quais estariam realmente interessadas. Porém, os possíveis compradores estão preocupados com os prejuízos do banco e estariam interessados no auxílio do governo para cobrir futuras perdas -como aconteceu na venda do Bear Stearns.
Segundo o “Wall Street Journal”, interessados “aparecerão em bando”, caso o governo dos EUA intervenha no negócio. O jornal afirma ainda que o Bank of America (BofA) já está discutindo preliminarmente com o Lehman Brothers e que parece ser, no momento, a principal esperança para um negócio sair. Só que o BofA recentemente adquiriu a Countrywide Financial (a financiadora de hipotecas que foi uma das abatidas pela atual crise) e provavelmente precisará de ajuda federal para realizar o negócio.
Além disso, as negociações ainda estão no início e por isso, diz o “Wall Street Journal”, é cedo para dizer que tipo de negócio será realizado -caso realmente um acordo seja feito.
Pressões
Mas, se as ações continuarem caindo, crescerão as pressões para que o Lehman finalize logo um acordo, dizem analistas. Uma das vantagens do banco em relação ao Bear Stearns é que, após a venda do rival, o Fed lançou um programa de crédito para bancos de investimento.
Analistas afirmam que os britânicos HSBC e Barclays e o japonês Nomura podem também estar entre os interessados. Um porta-voz do HSBC disse que é “altamente improvável” que o banco entre na disputa pelo Lehman Brothers, que perdeu US$ 6,7 bilhões entre o segundo e o terceiro trimestres fiscais. O prejuízo de US$ 3,9 bilhões no terceiro trimestre foi o maior nos 158 anos do banco.
Anteontem, o presidente-executivo do Lehman Brothers, Richard Fuld, não descartou a venda do banco. “Eu sempre disse que, se alguém aparecer com uma oferta atrativa, ela será levada para o conselho para ser avaliada, e isso não mudou.”
Com agências internacionais