Folha : custo do crédito sobe e preocupa governo

FOLHA DE SÃO PAULO
SHEILA D’AMORIM
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de pouco mais de dois meses tentando administrar os impactos negativos da crise financeira externa na economia brasileira, o governo mudou o foco de suas preocupações. Em vez da oferta de crédito, agora é o custo dos empréstimos o alvo das medidas em discussão.

Segundo levantamento do Banco Central, o custo médio de um empréstimo bancário chegou a 45% ao ano neste começo de mês, se considerada a média dos contratos firmados entre os dias 1º e 12 de novembro. Em outubro, essa taxa estava em 42,9% ao ano e, em setembro, em 40,4%.

A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a equipe econômica começou a mapear medidas que podem ser adotadas nessa área, mas, segundo a Folha apurou, já se sabe que o problema é bem mais difícil de ser contornado do que o da falta de liquidez, que dominou as atenções até agora.

Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, a escalada dos juros não deve ser interrompida enquanto as turbulências nos mercados globais não diminuírem.

A alta é mais pronunciada nos financiamentos a pessoas físicas. Nessa modalidade, a taxa média praticada pelos bancos, que estava em 54,8% ao ano em outubro, já chegou a 59,8% neste começo de mês, nível mais alto registrado pelas estatísticas do BC em três anos.
Para o governo, apesar de o volume de dinheiro em circulação não ter sido totalmente restabelecido e de o crédito ter diminuído o ritmo de crescimento, a situação irá se acomodar gradualmente. No entanto, se a oferta for restabelecida num patamar mais baixo, mas a demanda cair por causa do custo, isso causará problemas para o crescimento em 2009.

O ponto central para a equipe econômica é como fazer cair o valor cobrado nos empréstimos. Esse custo subiu nos últimos meses, reflexo não só do agravamento da crise financeira mas também da elevação da taxa básica de juros, a Selic.

“Spread” elevado

A equação passa pelo “spread” das transações bancárias: a diferença entre o custo que uma instituição tem para captar dinheiro e o valor cobrado no empréstimo ao cliente. Aí estão embutidos o lucro da operação, os impostos pagos, exigências feitas pelo governo, como recolhimento compulsório (parcela do depósitos que fica parada no Banco Central), o risco calculado para os clientes e os custos administrativos.

Em setembro, o “spread” médio estava em 26,4 pontos percentuais. Isso significa que, dos 40,4% ao ano cobrados nos empréstimos, 26,4 pontos percentuais ficavam com os bancos. Em outubro, o “spread” havia subido para 28,4 pontos percentuais e neste começo de mês está em 30,5 pontos.

“Esse movimento é reflexo do maior conservadorismo das instituições financeiras”, afirma Lopes.

Ou seja, com receio de que a crise afete a capacidade de pagamento de seus devedores, os bancos estariam se antecipando a eventuais perdas e aumentando os juros.

Os presidente dos bancos federais, entre eles a Caixa Econômica e o Banco do Brasil, tentaram explicar ao presidente Lula, na semana passada, que a alta recente nesses “spreads” é fruto do maior risco com a crise financeira global e também das elevações dos juros promovidas pelo BC neste ano.

Não convenceram e saíram do encontro com a ordem de melhorarem sua eficiência administrativa para poderem, a partir da mesma taxa Selic e de um risco menor, pelo menos, não cobrar mais caro nas operações. Afinal, uma parte importante do “spread”, o recolhimento compulsório, foi reduzido significativamente nos últimos dois meses.

Lula está convencido de que os bancos federais têm obrigação de liderar o movimento para brecar a alta do custo final dos empréstimos. Por isso, ele cobrou mais eficiência administrativa das duas instituições. BB e Caixa estão reavaliando metas de cortes de gastos, o que inclui de pessoal a material de escritório e cafezinho.

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