FOLHA DE SÃO PAULO
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Bradesco recusou a proposta do empresário Eike Batista para comprar a Bradespar, controladora da Vale. Conforme revelou a Folha no sábado passado, a proposta havia sido apresentada por Batista a Lázaro Brandão, presidente do conselho de administração do Bradesco, no dia 19 de agosto.
A Bradespar reúne 17% da Valepar, empresa que tem 53% do capital votante da Vale. A Valepar tem como demais sócios a Litel (que reúne as ações dos fundos de pensão Previ, Petros e Funcef), com 58%; o grupo japonês Mitsui, com 15%; e o BNDES, com 9%. Agora, Eike busca um acordo com os fundos de pensão.
A negativa do Bradesco foi transmitida a Eike pelo banqueiro André Esteves, dono do Pactual, no fim de semana. Esteves foi o responsável por articular a aproximação de Eike com Brandão, com quem tem construído uma relação mais próxima nos últimos meses.
Depois de abrir as portas para Eike, o banco soube que o empresário procurou obter apoio do governo para entrar no controle da Vale.
Eike buscou saber a opinião do presidente Lula e dos presidentes do BNDES, Luciano Coutinho, e da Previ, Sérgio Rosa, sobre a negociação. A aproximação ocorreu no momento em que Lula se mostrava insatisfeito com os rumos da Vale devido às demissões e aos cortes de investimentos por conta da crise.
A Vale é comandada por Roger Agnelli, que ocupa a presidência desde 2001 por indicação do Bradesco. O banco obteve a prerrogativa graças a um acordo costurado com os demais sócios da Valepar.
Filho de Eliezer Batista, que presidiu a Vale, Eike criou empresas de mineração, infraestrutura e petróleo que poderiam ter sinergias com a Vale.
Na terça-feira passada, Lula se encontrou com Agnelli, pela segunda vez depois da crise do meio do ano, para conversar sobre a Vale. No encontro anterior, em agosto, conforme revelou a Folha, Lula e Agnelli já tinham selado a paz.
Antes do anúncio do fim das negociações, especialistas se dividiam quanto à lógica do Bradesco de vender a Bradespar. Para alguns, o negócio fazia sentido porque permitiria ao Bradesco, hoje quarto banco brasileiro, se capitalizar para voltar a crescer no setor.
O próprio Bradesco, que nunca havia aceitado ouvir qualquer proposta para vender a Bradespar, revelou sua indecisão ao receber Eike.
Prevaleceu para o banco, porém, a ideia de que a Vale era um dos ativos de melhor retorno e que vendê-lo poderia se revelar, ao fim, um equívoco. O Bradesco não quis comentar o assunto.