Filme “Margin Call” mostra como sistema financeiro afeta ética das pessoas

Estreante em Hollywood, o cineasta norte-americano J.C. Chandor tem uma experiência bem particular e longeva no mercado financeiro. Seu pai trabalhou como consultor por quase 40 anos, boa parte deles na corretora Merrill Lynch. Ou seja, a bancarrota do Lehman Brothers e a crise do crédito foi acompanhada em família.

“O cinema é um território novo para mim, mas a economia sempre fez parte da minha vida”, explica, por telefone, de Nova York, à Folha de S.Paulo. Ele diz que “Margin Call” partiu de seu interesse de mostrar “como o sistema financeiro engole as pessoas”.

“Elas são compradas, contratadas, despedidas, e isso manipula a maneira como agem, além de afetar sua ética. Um dos personagens quer fazer a coisa certa, mas a pressão da empresa e a fragilidade humana o fazem calar a boca e aceitar a situação”, diz. “O filme se situa na enorme zona cinzenta da ética que existe nesta área.”

Inspiração

Quando fala de filmes que retratam o mercado financeiro, “Wall Street” (1987) é o primeiro que vem à cabeça.

“Não revi o filme de Oliver Stone, mas longas como este me inspiraram a tratar do tema sob outra perspectiva”, diz. “É um assunto muito rico porque atinge muitas pessoas de forma profunda.”

“Margin Call” impressiona ao tratar do mercado financeiro sem a histeria normalmente associada a ele. As cenas são sóbrias, ninguém grita, não há correria. A euforia das grandes negociações e cifras dá lugar à frustração típica de quando as coisas dão errado.

Foi com planos de dar novos contornos à imagem que se tem do sistema financeiro que Chandor resolveu deixar a publicidade para se lançar como roteirista e diretor. “Foi um bom timing. O assunto está engajando muita gente interessada na discussão”, avalia.

Mas isso também pode jogar contra o filme. “Às vezes, as pessoas ouvem falar muito daquilo e se cansam. Há os dois lados. Mas não nego que há um movimento significativo discutindo a crise.”

Filmado com US$ 3,5 milhões e com estrelas como Demi Moore, Chandor diz que “se impôs desde o roteiro” a limitação de resolver a trama toda em só um dia. “Isso ajudou a produção e a economia do dinheiro que tinha.”

“Margin Call” rendeu mais de US$ 4,6 milhões em bilheteria nos EUA. “Está sendo muito lucrativo. Ainda temos muitos países para estrear.”

O National Board of Review e a Associação dos Críticos de Nova York elegeram o filme como melhor longa estreante. Agora, a distribuidora nos EUA faz campanha pelo Oscar e por outros prêmios.

Como “Guerra ao Terror”, de Kathryn Bigelow, que levou seis estatuetas no ano passado, quer ser o filme de baixo orçamento a estragar a festa dos blockbusters.

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