(São Paulo) "Quem trabalha em banco bancário é", famoso lema dos anos 80, hoje é um discurso morto frente a uma nova realidade no sistema financeiro do Brasil.
Essa foi uma das constatações do 1. Seminário do Ramo Financeiro, que a FETEC/CUT-SP está promovendo, nesta quarta e quinta-feira, com participação dos sindicatos filiados.
O evento contou com exposições da Subseção do Dieese da Linha Bancários sobre o atual cenário e sobre as perspectivas que estão colocadas para o movimento sindical bancário cutista após uma década de transformações no sistema financeiro nacional.
De acordo com o painel inicial, as mudanças tiveram início com o processo de fusões/incorporações de bancos, seguido das privatizações, do surgimento dos correspondentes bancários e das financeiras e posterior assinatura de acordos entre bancos e redes varejistas até a constituição das atuais holdings financeiras.
Com essa nova realidade, a categoria bancária se viu reduzida de 900 mil para 400 mil trabalhadores, ao mesmo tempo em que evoluiu um outro universo de trabalhadores vinculados a operações financeiras que, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (Pnad) de 2004, agrega cerca um milhão de postos de trabalho.
As exposições da Subseção do Dieese também abarcaram a evolução das cooperativas de crédito no Brasil, como importante empreendimento econômico e social, capaz de permitir acesso à população excluída dos serviços bancários.
Segundo as exposições, essa reorganização do capital mudou o status da concessão de crédito que, de prestação de serviço, assumiu o papel de produto focado em segmentos de consumidores.
Essa segmentação de produtos resultou na segmentação dos trabalhadores vinculados com as várias holgings financeiras, que nada mais são do que agrupamentos de sociedades anônimas, cujas ações são controladas por uma única empresa.
"Avaliar todo esse processo nos dá a dimensão da importância de se atentar para o ramo como um todo", avisou o economista do Dieese, Murilo Francisco Barella ao fazer o seguinte alerta: "Temos que tomar muito cuidado com a flexibilização das leis trabalhistas, pois é justamente ela que dificulta o trabalhador de enxergar o global. A conseqüência disso é o enfraquecimento da classe trabalhadora, o que abre espaço para perdas ainda maiores".
"Por isso a importância ampliarmos o nosso olhar e ver o que acontece com essas centenas de trabalhadores que hoje enfrentam condições precárias de trabalho", destacou a diretora da FETEC SP, Maria Rita Serrano.
Na avaliação da dirigente, o movimento sindical bancário precisa rever seus dogmas e se qualificar para ganhar agilidade para perceber novas realidades.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Luiz Cláudio Marcolino, voltar-se para esses trabalhadores é uma questão que urge para o movimento sindical bancário. "O primeiro passo é buscar essa representação porque se não o fizermos outras entidades o farão. Em segundo momento é construir acordos de transição para, então, buscar a organização capaz de aproximar direitos desses trabalhadores aos
dos bancários", instigou o dirigente durante exposição sobre experiências de acordos diferenciados.
Para o diretor de Bancos Privados da FETEC SP, Pedro Sardi, esse é o único caminho que resta para as entidades sindicais bancárias. "Quem não se reciclar corre o risco de extinção e para que esse novo conceito se torne realidade precisamos garantir o diálogo com esses trabalhadores, pois a representação de fato só se concretiza nas ruas", frisou o dirigente.
Durante o fechamento desta edição, os representantes sindicais estavam reunidos por grupos para fazer a radiografia do ramo por regionais da FETEC. Os debates serão retomados na manhã desta quinta-feira.
Fonte: Lucimar Cruz Beraldo – Fetec CUT/SP