Os profissionais de bancos de investimento são os mais bem remunerados do setor bancário no Brasil. Em muitos casos, graças à agressiva política de pagamento de bônus dessas instituições, os profissionais ganham o mesmo, ou até mais, do que presidentes de grandes empresas. O principal executivo de um “investment bank” – o “manager director”, que equivale a um cargo de presidente chega a ganhar até R$ 2 milhões ao ano em remuneração variável, além de um salário mensal que pode atingir R$ 80 mil. Somados, são quase R$ 3 milhões em um ano.
Os números são da última edição da pesquisa sobre salários de executivos realizada pela Michael Page. Profissionais de bancos de investimento são especializados em operações de fusões e aquisições, emissões de renda fixa e variável e estruturação de grandes operações de crédito.
Segundo o gerente da divisão de “banking” da consultoria, Luis Granato, a política de pagamento de bônus vem sendo rediscutida aqui no Brasil. “Desde o final do ano passado, as instituições financeiras que são nossos clientes começaram a pedir aconselhamento sobre como fazer os pagamentos.
A preocupação em saber o que os concorrentes vêm fazendo está crescendo”, diz. Segundo o especialista, é cada vez mais comum as instituições adotarem aqui o mesmo que seus pares estrangeiros fazem nos Estados Unidos e Europa desde a eclosão da crise financeira internacional, em 2008: o “diferimento” dos bônus.
Isso significa que em vez de pagar os bônus em dinheiro, paga-se em ações – e o executivo só pode vendê-las no mercado em três anos. “Se sair da instituição antes, perde os bônus”, explica Granato. Esta é uma maneira de as instituições desembolsarem menos recursos com esses pagamentos anuais e ainda conseguir reter o executivo. “Muitas vezes eles embolsavam enormes quantias no final do ano e logo depois trocavam de emprego”, diz Granato.
A pesquisa não revela essa mudança na política de pagamento de bônus. “É algo que percebemos no contato constante com nossos clientes, principalmente no final do ano. Quando divulgamos a pesquisa, somos procurados pelos departamentos de recursos humanos para ajudá-los a estabelecer as regras de bonificação e contratação para o ano seguinte”, afirma.
Segundo Granato, os executivos brasileiros de bancos de investimento demoraram a ver seus bônus serem cortados, redimensionados ou renegociados. Por isso, hoje, seus salários “não deixam nada a desejar” aos dos executivos que ocupam funções semelhantes em grandes bancos em Nova York. Mas segundo o especialista, os bancos estrangeiros de primeira linha com filiais aqui, como J.P.Morgan, ainda são os que pagam os maiores salários.
O setor de “banking” na pesquisa da Michael Page inclui bancos de varejo, de investimento, private equity, butiques de fusões e aquisições, gestoras de fundos, bandeiras de cartões, credenciadoras e empresas de meios eletrônicos de pagamento, financeiras, empresas de leasing e consórcios. Em cada uma delas foram mapeados os salários e remunerações variáveis de diversos cargos, desde os de áreas de suporte até os de vendas.
Depois dos bancos de investimento, quem recebe os maiores salários são gestores de fundos, analistas de ações “buy side” e estrategistas que administram mais de R$ 1 bilhão em recursos – além do fixo, os bônus e participações podem chegar a R$ 1 milhão ao ano. Profissionais de corretoras também podem ganhar até R$ 800 mil por ano em remuneração variável, além de salários que chegam a R$ 50 mil por mês.
Mercado de investimento paga os melhores bônus
“As posições mais almejadas e que melhor remuneram os executivos dentro do mercado financeiro estão dentro das instituições que atuam no mercado de investimento (Investment Banking, Wealth Management e Private Equity) porque estes profissionais estão envolvidos em negócios muito grandes e são responsáveis por carteiras de clientes com valores expressivos e de fundamental importância para o banco”, afirma Granato. “Não é raro ver jovens trainees de 20 anos recebendo salários de R$ 11 mil mensais mais luvas de R$ 50 mil por ano”, acrescenta o especialista. Mas essa política de bônus está mudando.
Dentro dessa mesma linha, outra área que está remunerando muito bem seus executivos é a de private equity. A atividade é recentemente nova no Brasil, e está crescendo. “Esses fundos compram empresas fechadas, com faturamento de até R$ 400 milhões ao ano, de estrutura familiar e sem plano de sucessão – como Tok Stok, CVC, Dudalina…
Temos cada vez mais casos como esses no Brasil, o que é música para os ouvidos dos profissionais de private equity”, diz. Segundo Granato, como é raro encontrar profissionais especializados, é também cada vez mais comum ver gerentes de bancos saindo de seus empregos para assumir posições nesses fundos, onde a remuneração é baseada em risco mas pode superar os R$ 800 mil anuais.