Financial Times
Francesco Guerrera e Justin Baer, de Nova York
O Citigroup está emaranhado em uma disputa jurídica com um ex-executivo do alto escalão, cujo pacote de demissão multimilionário foi congelado no ano passado, no auge da tempestade política em torno da remuneração dos executivos de bancos, de acordo com pessoas próximas à situação.
A decisão de Kevin Kessinger, um ex-dirigente da área de tecnologia, de ajuizar uma ação para obrigar o Citigroup a retomar o pagamento das suas verbas rescisórias, deverá alimentar o debate em torno da remuneração do setor financeiro dos Estados Unidos no exato momento em que as instituições financeiras se preparam para anunciar as gratificações de 2009.
Pessoas familiarizadas com a questão disseram que Kessinger decidiu levar o Citi à arbitragem, uma modalidade extrajudicial de conciliação de disputas.
Acredita-se que seu pacote rescisório teria sido congelado por mais de seis meses.
O Citi não quis comentar. Kessinger, que atualmente é executivo-chefe de Informação no TD Bank do Canadá, não deu retorno a pedidos de comentário.
Numa iniciativa surpreendente em junho do ano passado, o Citi suspendeu os pagamentos a uma série de executivos graduados recém-saídos.
Entre estes que recebiam os pagamentos estava Kessinger e Michael Klein, seu ex-negociador mais graduado.
À época, executivos do Citi disseram que o objetivo da iniciativa seria mitigar a disputa política em torno da remuneração do setor financeiro, que havia sido deflagrada por notícias sobre vultosos bônus pagos a alguns executivos na AIG, a seguradora em graves dificuldades.
Especialistas jurídicos haviam dito que o Citi estava vulnerável a ações jurídicas movidas por ex-executivos porque os pacotes de rescisão representariam acordos vinculantes entre os dois lados.
Dirigentes do Citi, que tem sido repetidamente socorrido pelo governo dos EUA, porém, haviam respondido que os ex-executivos entenderam o motivo por trás da iniciativa e que em discussões eles haviam dito que seria improvável que tomassem medidas jurídicas.
Pessoas familiarizadas com o banco indicaram que o Citi retomaria os pagamentos assim que a comoção política em torno da remuneração serenasse.
No entanto, a remuneração de Wall Street continuou sendo um tema polêmico entre políticos e o público e deverá se tornar um tema ainda mais quente quando os bancos revelarem os seus pagamentos de gratificações com os resultados do quarto trimestre, no fim do mês.
Não está claro se o Citi pretende retomar os pagamentos a Kessinger ou se os dois lados poderão chegar a um entendimento durante a arbitragem.
Acredita-se ser importante, porém, que a restituição de fundos de resgate federais no valor de US$ 20 bilhões feita pelo Citi livrou o banco das restrições impostas pelo governo à remuneração dos executivos de bancos.
Em separado, soube-se que John Havens, o chefe do banco de investimento do Citi, foi o executivo com a mais alta remuneração da companhia em 2009, com remuneração total de aproximadamente US$ 9 milhões.
O pacote de Havens, revelado num informe às autoridades regulatórias, era composto na sua maioria de ações do Citi.