Financial Times
Krishna Guha, de Washington
A decisão tomada na semana passada pelo Reino Unido e pela França de impor um imposto sobre as bonificações recebidas pelos banqueiros provocou as primeiras discussões públicas sobre uma eventual adoção da medida pelos Estados Unidos.
Com o governo americano aparentemente cauteloso e a não existência de um aumento imediato do entusiasmo no Congresso – onde a questão não foi levantada durante uma audiência sobre o fundo de socorro do programa de ajuda aos ativos problemáticos, o Tarp -, a probabilidade dos Estados Unidos decidirem impor tal imposto no curto prazo parecia pequena na sexta-feira. Mas analistas disseram que há uma boa chance da ideia ganhar força nos próximos meses.
Até agora, não houve um verdadeiro debate público sobre os impostos sobre ganhos inesperados (“windfall taxes” em inglês), embora esteja havendo discussões pontuais nos círculos econômicos.
O debate político está concentrado em outros pontos – a reforma do sistema de saúde, a regulamentação financeira e o uso de recursos do Tarp para financiar a criação de empregos.
Mas depois da decisão do Reino Unido e da França sobre a “windfall tax”, a ideia está despertando as atenções. Canais de televisão a cabo voltadas para o mundo dos negócios exibiam na sexta-feira debates sobre os impostos sobre ganhos inesperados. “Muitos de nossos telespectadores gostaram da ideia”, observou Melissa Francis, âncora do programa “Call ot the Wild”, da CNBC.
Os progressistas estão demonstrando seus apoios. “Meu caro, amo você”, escreveu Paul Krugman, o influente colunista do “The New York Times”, em seu blog, elogiando Alistair Darling, o primeiro ministro britânico, por uma decisão “totalmente razoável”.
Lawrence Mishel, presidente do Economic Policy Institute, de tendências esquerdistas, disse que a ideia “poderá pegar rapidamente”, em função da raiva que o público está de Wall Street. “Há uma fogueira esperando para ser acesa.”
Entretanto, outros alertaram que não se deve imaginar que uma ideia tentadora na Europa possa encontrar apoio no sistema político e na opinião pública dos EUA. “Nos EUA, isso é visto de uma maneira um pouco diferente”, disse Simon Johnson, membro do Peterson Institute e consultor de alguns congressistas democratas.
Há um certo apoio ao “windfall tax” entre os membros da equipe econômica do governo Obama, mas trata-se de um ponto de vista minoritário. Tim Geithner, secretário do Tesouro americano, não está inclinado a adotar o que os céticos chamam de políticas do “Velho Testamento” – políticas que punem o setor financeiro, em vez de resolver os problemas estruturais do sistema.
Funcionários do governo, assustados com a experiência proporcionada pelo escândalo das bonificações distribuídas pela AIG, temem abrir as portas para o que poderia se mostrar uma medida populista contra os bancos.
Em vez de ver o sistema bancário como um todo como se ele tivesse sido socorrido e sujeitá-lo ao “windfall tax”, o Tesouro prefere estreitar a definição de socorro – investimentos do Tarp em participações, grande parte dos quais já foram devolvidos.
Mas, em última análise, o julgamento será muito influenciado pelas considerações políticas. Rahm Emmanuel, chefe de staff da Casa Branca, e outros funcionários importantes precisam avaliar argumentos poderosos da oposição.
Tomar o partido do público contra Wall Street é algo que poderá render grandes dividendos políticos. No entanto, a administração não quer ser vista como confiscatória e socialista.
Além disso, seus aliados no Congresso estão se aproximando do ciclo eletivo de meio de mandato, no qual os recebedores de bonificações serão doadores importantes.
Por enquanto, a aposta é que a administração não irá defender um imposto sobre os ganhos inesperados. Mas isso poderá emergir como uma possibilidade séria no Congresso, onde políticos estão procurando maneiras de pagar novas iniciativas de política.
“A busca por compensações será para valer”, disse um especialista em orçamento. “Acho que, com a Europa liderando o caminho, o ‘windfall tax’ tendo uma boa relatoria e não se mostrando uma política ruim, ele será de fato levado em consideração.”