O Estado de São Paulo
Leandro Modé
O presidente-executivo do Itaú-Unibanco, Roberto Setubal, estimou ontem que a fusão das duas instituições, anunciada há exatamente um mês, deverá ser concluída em três anos. De acordo com ele, a expectativa é de que 70% das operações dos dois grupos estejam integradas em, no máximo, um ano e meio.
O primeiro passo para isso, explicou Setubal, foi dado na última sexta-feira, quando assembléias extraordinárias dos dois bancos definiram o conselho de administração do Itaú-Unibanco. Serão 14 integrantes no total, sendo dois da família Moreira Salles (controladora do Unibanco), dois da família Villela e dois da família Setubal (que controlam atualmente o Itaú).
Todos tomarão posse quando o Banco Central (BC) aprovar o negócio. Segundo Roberto Setubal, a expectativa é de que isso ocorra entre janeiro e fevereiro de 2009. “Tenho conversado com o BC e o processo de aprovação está caminhando normalmente”, disse ele.
Antes da fusão, o conselho do Unibanco era formado por nove pessoas. Quatro integrarão o conselho do Itaú-Unibanco: Pedro Moreira Salles, que será o presidente, Francisco Eduardo de Almeida Pinto, Israel Vainboim e Pedro Bodin. Além deles, fará parte do grupo o irmão mais velho de Pedro, Fernando Roberto Moreira Salles, que não integrava o conselho do Unibanco.
Entre os cinco que não foram indicados para compor o conselho do Itaú-Unibanco destaca-se o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan. Ainda não se sabe se ele ficará fora da nova organização ou se apenas não integrará seu conselho de administração.
No caso do Itaú, o conselho anterior era composto por 15 pessoas. Além de Roberto Setubal, ficaram no Itaú-Unibanco Alfredo Egydio Arruda Villela Filho, Alcides Lopes Tápias, Alfredo Egydio Setubal, Fernão Bracher (representante do banco BBA, comprado pelo Itaú em 2002), Guillermo Alejandro Cortina (representante do Bank of America, que vendeu ao Itaú o BankBoston), o ex-presidente do BC Gustavo Loyola, Henri Penchas e Ricardo Villela Marinho. O economista Pérsio Arida, um dos criadores do Plano Real, está entre os nomes que integravam o conselho do Itaú, mas não foram eleitos para o Itaú-Unibanco.
CENÁRIO ADVERSO
Se já não bastasse o desafio de unificar as operações que formam o maior banco brasileiro pelo critério de ativos (R$ 575 bilhões), Itaú e Unibanco terão pela frente um cenário econômico bem mais adverso do que o dos últimos anos.
O consultor-sênior do Itaú-BBA (banco de atacado do grupo), Edmar Bacha, disse esperar um crescimento de 2,8% para o Produto Interno Bruto (PIB) do País em 2009 – ante 5,2% estimados pelo mercado financeiro para este ano.
“Será um ano de ajuste, que, no Brasil, será razoavelmente suave”, sintetizou. “O País verga, mas não quebra”, brincou. Bacha observou que um ponto porcentual desses 2,8% se deve a efeitos estatísticos. Na realidade, a economia brasileira, nas contas dele, apresentará expansão de apenas 1,8% no ano que vem.
Essa forte desaceleração, segundo Bacha, será provocada principalmente pelo desempenho do setor externo, que sofrerá impactos variados da crise global. Um deles é a balança comercial, que terá um saldo de somente US$ 7 bilhões em 2009, ante US$ 24 bilhões esperados para este ano.
Isso ocorrerá, segundo o economista, por causa da expressiva redução das exportações, de US$ 201 bilhões neste ano para US$ 177 bilhões no ano que vem. Além disso, ele acredita que o investimento estrangeiro direto despencará de cerca de US$ 40 bilhões em 2008 para US$ 20 bilhões em 2009.
Na avaliação de Bacha, o governo brasileiro tem reagido bem à crise. Ele lembrou que alguns vícios do País tornaram-se virtudes. Citou como exemplo o alto valor dos depósitos compulsórios, dinheiro que os bancos têm de deixar parados no Banco Central.