O Estado de São Paulo
Patrícia Campos Mello, NOVA YORK
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que o consenso na reunião preparatória do G-20 em Horsham, na Inglaterra, foi de que os Estados Unidos vão ter de estatizar seus bancos. “A necessidade mais imediata é a nacionalização dos bancos, e os Estados Unidos não vão escapar disso”, disse Mantega, que participou da reunião de ministros de finanças, em preparação para o encontro de cúpula do G-20 de 2 de abril, em que serão debatidas soluções para a crise.
“Existe forte resistência nos Estados Unidos à nacionalização dos bancos, trata-se de uma questão ideológica, eles acham que banco estatizado não combina com livre mercado. Mas os EUA não têm saída, estão sendo pressionados”, disse Mantega. Os Estados Unidos vêm injetando bilhões em bancos como Citibank e Bank of America, mas a Casa Branca resiste em assumir o controle das instituições.
“A maior parte das manifestação dos ministros do G-20 foi de que não adianta simplesmente dar dinheiro pro banco, o governo precisa entrar no banco, com a participação acionária”, disse o ministro.
Segundo Mantega, no Brasil não seria difícil fazer isso. “Nós temos experiência em bancos públicos. Faríamos a nacionalização dos bancos e saberíamos como administrá-los”, disse o ministro. “O problema é que aqui nos Estados Unidos eles não estão acostumados a administrar banco público, acham que banco público vai ser uma instituição burocrática, que não vai funcionar. Porém, é possível ter um banco público que trabalhe de forma eficiente.”
FMI
O ministro disse que vai propor uma maneira de aumentar os recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI). Os EUA querem que os países aumentem a capitalização do banco. Mas os emergentes se recusam a aumentar seus aportes, enquanto não houver a reforma da participação dos países na instituição. Como alternativa, Mantega vai sugerir que os países façam aplicações numa linha de empréstimos chamada NAB (Novos Acordos de Empréstimo, na sigla em inglês), e a vantagem é que teriam maior poder sobre o uso da linha.
Na reunião, houve consenso em relação à necessidade de aumentar a regulamentação do sistema financeiro e de fazer políticas fiscais na medida do possível, informou Mantega. Mas ainda há divergências: os Estados Unidos reivindicam pacotes de estímulo fiscal maiores, enquanto os europeus estão mais comedidos, argumentam que têm programas contracíclicos, portanto não precisam aumentar tanto seus gastos públicos. “Nossa posição é de que não adianta fazer política fiscal agressiva se não resolver os problemas dos bancos”, disse Mantega.
Os Estados Unidos e a Inglaterra, que têm bancos menos regulamentados, opõem-se à criação de um órgão supranacional de regulação, enquanto muitos europeus defendem o uso do Fórum de Estabilidade Financeira (Financial Stability Forum) para isso.
“O Brasil quer avanços na regulamentação. Mas ainda não temos certeza se precisamos ter um órgão mundial”, conclui Mantega.