Estadão: Brasil não tem modelo efetivo para microcrédito, diz Yunus

O Estado de São Paulo
Marianna Aragão

O microcrédito produtivo, sistema de empréstimo à população pobre para estimular o empreendedorismo, ainda não encontrou um modelo para ser aplicado de forma maciça no Brasil. A avaliação é do ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2006, Muhammad Yunus, economista e criador do Grameen Bank, de Bangladesh. O “banqueiro dos pobres” – apelido que ganhou por ter criado o maior banco de microcrédito do mundo, com 7,5 milhões de clientes, 28 mil empregados e US$ 1 bilhão emprestados em 2007 – acredita que o sistema está emperrado no País porque os bancos não sabem como atender aos pobres. As ONGs, que também poderiam fazer esse papel, não têm dinheiro.

“O microcrédito não consegue ser extensivo no Brasil, apesar de existir muita gente esperando por ele”, disse Yunus ao Estado, após participar, em São Paulo, do evento Expo Management. Segundo o economista, a limitação ocorre pela falta de conhecimento das instituições financeiras sobre os tomadores de microcrédito.

Yunus defende, porém, que o desenvolvimento do microcrédito no País não dependa apenas dos bancos. Ele sugere a criação de um fundo central onde ONGs possam pegar emprestado e, depois, emprestar aos pobres. “É preciso criar uma regulamentação que transforme as ONGs em verdadeiros bancos de microfinanças.”

O Grameen Bank, criado há 32 anos com um capital de US$ 27 e 42 clientes, já concedeu mais de US$ 7 bilhões em empréstimos à população carente em Bangladesh sem exigir comprovação de renda dos clientes. O índice de inadimplência é de cerca de 3%. As taxas de juros oscilam entre 8,5% e 12%. “Isso não se chama filantropia. Somos um banco. Todo o dinheiro que emprestamos vem de nossos depósitos”, disse Yunus.

No Brasil, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, foram feitas 963.459 operações de microcrédito, com a liberação de R$ 1,1 bilhão, em 2007. Mas os números são inexpressivos considerando o tamanho e a pobreza da população, diz o economista, que não descarta a possibilidade de trazer uma filial do Grameen para o Brasil. Este ano, o banco abriu uma filial em Nova York, a primeira fora de Bangladesh. “Se vocês tiverem o dinheiro e interessados, entraremos com know-how.”

CRISE

Ao comentar a crise financeira mundial, Yunus arrancou aplausos da platéia. Segundo ele, os bancos, que nunca quiseram emprestar aos pobres por temer a inadimplência, estão quebrando porque “são os ricos que não estão pagando”. Ele acredita, porém, que o sistema de microcrédito será impactado. “Quando a demanda do mercado diminuir, os empreendedores terão mais dificuldade de vender seus produtos.”

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