Jamil Chade
CORRESPONDENTE
GENEBRA
O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse ontem que o bloqueio de R$ 545,79 milhões do Opportunity foi legal e avisou que, apesar dos problemas e erros cometidos na Satiagraha, essa operação da Polícia Federal será mantida. “O bloqueio foi feito absolutamente de forma legal, por ordem judicial e sem nenhum tipo de artifício”, afirmou. “Enganam-se aqueles que pensam que, por causa de erros da operação no passado, as pessoas vão sair impunes.”
Tarso evitou fazer qualquer comentário específico sobre a situação do banqueiro Daniel Dantas, controlador do Grupo Oportunity. “Se ele vai ser condenado ou não, eu não sei. A operação continua e com muita consistência, articulada com o Ministério Público e com juízes.”
Em sua avaliação, os erros cometidos na Satiagraha decorreram de uma falta de acompanhamento por parte dos escalões superiores. “A PF passou por um período de ultravalorização. Foi positivo, pois mostrou à sociedade que tem uma polícia eficiente. Mas isso teve efeitos secundários. E ficou claro quando alguém vazou as informações, de propósito.”
Para Tarso, o vazamento de dados foi comandado por alguém que tentava se promover. “Não estou dizendo que foi o delegado Protógenes (Queiroz, ex-titular da operação). Mas a pessoa que fez isso vai ter de ser investigada e punida.” Ele ponderou que as debilidades da operação já estão sendo corrigidas e que o bloqueio de ativos do Opportunity era resultado da manutenção das investigações. “Ela vai continuar”, ressaltou.
GRAMPO
O ministro garantiu que não será necessária a sua convocação para depor na CPI do Grampo. “Não há necessidade de convocação. Eu aceitei dialogar sem problemas”, justificou. Segundo Tarso, o governo atuará em duas frentes.Umaé a de atacar a possibilidade de uso do Estado para grampos ilegais. O outro front é a punição mais dura para funcionários. “Isso criará um novo tipo penal. Com essa lei, estamos reduzindo a possibilidade do uso ilegal de escutas e punindo quem as faz”, explicou.
Para ele, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) está colaborando com as investigações e tem interesse em descobrir o que ocorreu. “Ela quer limpara imagem da instituição. Tecnicamente, precisamos concursos públicos e a reforma interna. A memória histórica da Abin ainda é, em parte do quadro, a de uma agência toda poderosa que não respeitava a lei.”
“Todas as agências estão em transição no mundo. Nos países ricos, estão mudando para combater o terrorismo. No Brasil, para se consolidar como uma agência num Estado democrático de direito”, afirmou.