O Estado de São Paulo
Fabio Graner, Fernando Nakagawa e Leandro Modé
A desvalorização do real ante o dólar em outubro levou o Banco Central (BC) a ter um ganho líquido de US$ 4,383 bilhões no mês. O valor refere-se aos ajustes das operações de swap cambial reverso, em que o BC é credor em taxa de câmbio e ganha quando o dólar sobe. No mês, a moeda americana se valorizou 13,3% ante o real. Em 31 de outubro, valia R$ 2,156.
Nos últimos anos, o BC inundou o mercado com esses swaps para tentar evitar uma valorização ainda mais acentuada do real. Vale lembrar que a moeda americana saiu da casa de R$ 3,50 no início do governo Lula, em 2003, para R$ 1,56 no fim de julho deste ano.
Com o aprofundamento da crise internacional a partir de 15 de setembro, data que marca a quebra do banco Lehman Brothers, o dólar reverteu a tendência e passou a subir. No pior da crise, bateu em R$ 2,53.
Esses dados mostram que, em última instância, o BC foi a contraparte “vencedora” das operações de derivativos cambiais que provocaram pesadas perdas a empresas como Sadia, Votorantim e Aracruz.
Essas companhias vendiam aos bancos dos quais eram clientes as chamadas opções de venda de dólar. Em outras palavras, davam aos bancos o direito de comprar a moeda americana por um determinado valor pré-acordado. Com a disparada do dólar, essas empresas tiveram prejuízos elevados.
Como os bancos não podem ficar expostos à variação cambial por causa de suas regras internas, iam ao mercado para fazer a operação oposta. Ou seja, recorriam à Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) para vender dólares a futuro.
Esses contratos, em sua maioria, tinham na outra ponta o BC. Como a tendência para o real era de valorização, a maioria dos agentes econômico-financeiros apostava a favor da moeda brasileira. O BC, com os swaps cambiais reversos, ficava na ponta contrária. “Não podemos esquecer que, antes de ganhar em outubro, o BC perdeu muito nos três anos anteriores”, observou um analista.