Estadão: BB liderou alta do spread após a crise

O Estado de São Paulo
Ribamar Oliveira, BRASÍLIA

Uma tabela que chegou às mãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva revela que foi o Banco do Brasil (BB) que puxou o aumento do spread (custo financeiro) nas operações de capital de giro para as empresas na atual crise econômica. A tabela, à qual o Estado teve acesso, mostra que o spread do BB nessa operação foi o que mais aumentou. O banco adotou, portanto, um comportamento oposto ao que Lula pediu.

A Caixa Econômica Federal teve comportamento diferente. Embora tenha elevado o spread em alguns momentos, no período de 28 de novembro a 4 de dezembro, a Caixa passou a operar com spread inferior ao anterior à crise. No mesmo período, o BB operou com o segundo maior spread do mercado, só perdendo para o Banco HSBC.

No início do ano, o Banco do Brasil operava com spread de 7,6% ao ano nas operações de capital de giro pré-fixadas. Era a taxa mais barata do mercado. No período de 20 de outubro a 24 de outubro, a taxa do BB já tinha subido para 27,1% ao ano e já era a terceira mais cara do mercado – mais de três vezes o spread do início do ano.

No auge da crise de liquidez, no período de 30 de outubro a 4 de novembro, quando a maioria das empresas não encontrava crédito nos bancos, a taxa do BB já tinha subido para 32% ao mês para as operações de capital de giro pré-fixadas – ou seja, o custo do empréstimo quadruplicou em relação ao do início do ano.

Uma importante fonte do governo disse que existe atualmente uma “assimetria” no sistema financeiro que beneficia o BB. Em momentos de crise, os poupadores e investidores correm para lá porque “banco público não quebra”.

Os números mostram, de acordo com essa fonte, que houve um forte aumento de depósitos no BB na atual crise. O banco usou esses recursos para elevar as aplicações e aumentou o custo dos financiamentos. O problema é que o BB tem acionistas privados, que estão se beneficiando da situação, observou a fonte.

Nas discussões internas do governo, a atuação do BB tem merecido críticas contundentes. Alguns técnicos chegam a dizer que o banco está se valendo de um poder de formação de preço monopolista que poderia ser contestado no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

O governo está preocupado com o atual spread bancário, tendo à frente o BB, pois considera que esse custo financeiro poderá agravar a desaceleração da economia. Para reduzir o spread, o Conselho Monetário Nacional (CMN) autorizou, na semana passada, o Banco Central a colocar à disposição dos bancos uma parte das reservas internacionais do País para serem emprestadas a empresas brasileiras com dívidas externas. Cerca de 4 mil empresas têm esse tipo de dívida. A idéia é usar até US$ 20 bilhões das reservas com essa finalidade.

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