A primeira Mesa de Convergência do Fórum Social Temático 2014 aconteceu nesta quinta-feira (23), em Porto Alegre, com o tema “Crise Capitalista, não vamos pagar essa conta”. Os palestrantes abordaram diferentes aspectos da crise estrutural do Capitalismo, com destaque para os processos de concentração de riqueza e a necessidade de reações firmes dos movimentos sociais.
Para João Felício, secretário Nacional de Relações Internacionais da CUT, não há dúvidas de que o capitalismo é um mal e que as questões de classe estão postas. A questão essencial, no momento, é a criação de uma unidade para o enfrentamento.
“O grande desafio é desenvolver um processo unitário para fazer um enfrentamento global. Não é cada grupo fazer sua luta individual em cada país que vai resolver o problema de todos. É preciso unidade para alcançar os objetivos em comum”, destaca o dirigente da CUT.
Concentração e desigualdade
O economista e professor da Université de Lausanne (Suíça), Ladislaw Dowbor, também considera a contradição do mundo capitalista evidente e aponta que o sistema se desenvolve em crises cíclicas. “As crises servem para aumentar a concentração de riqueza e isto interessa, claro, ao capital”, afirma.
A atual crise mundial, para ele, é fundamentada em três eixos: social, ambiental e financeiro. No eixo ambiental o professor cita o efeito do aquecimento global, o esgotamento de recursos e a poluição das águas. Ou seja, o uso de riquezas naturais para o favorecimento de poucos. No financeiro, ele lembra que “o PIB mundial é de 70 trilhões de dólares e os bancos internacionais já emitiram cerca de 630 trilhões”, causando desequilíbrio. E, no social, aponta a desigualdade e concentração de riquezas.
Apenas 1% da população mundial detém metade das riquezas do planeta, segundo estudos recém-divulgados para o Fórum Econômico Mundial de Davos. “Quem tem renda baixa não acumula. Compra comida mas não compra ações, não investe. Assim, sempre gasta o pouco que ganha, ficando na mesma situação. Já os ricos investem, aumentam lucro e não conseguem consumir tudo o que ganham, acumulando capital. E chegamos aos dados de que 85 bilionários tem mais recursos do que a metade mais pobre do planeta.”, afirma Dowbor.
Essas diferenças estruturais, segundo o especialista, geram dramas sociais como fome e miséria. O que é também contradição na visão do economista pois, só de grãos, o mundo produz mais de um quilo por pessoa no planeta. “Na prática, estamos desarticulando um ambiente para satisfazer uma minoria.”, destaca. Para ele “o problema não é de produção, mas de distribuição”.
União entre diferentes categorias, regiões e realidades
A concentração de poder e riqueza pode ser combatida com união de movimentos sociais e articulação de pautas, segundo Carminda Mac Lorin, do Fórum Social Mundial do Canadá. Para a ativista, é importante fomentar a ideia de um Fórum Social Mundial no hemisfério norte e começar um processo que integre o norte ao sul.
“Queremos ligar os diferentes fóruns sociais e faremos um Fórum Mundial em Quebec, em 2016. Fizemos uma declaração conjunta de apoio entre países do Norte e do Sul e queremos continuar em convergência”, afirma, citando a importância da internet no processo de diálogo com os diferentes setores sociais. “Mas é bom lembrar que as dificuldades não são só de idioma, são de cultura política e de realidade”. Para Carminda, as contradições são tratadas paliativamente, quando deveriam ser enfrentadas de forma mais incisiva.
Para Marcelo Abdala, metalúrgico e representante dos trabalhadores agremiados do Uruguai, é justamente quando as contradições ficam exacerbadas que os processos realmente transformadores emergem. E destaca a união como uma das principais formas de conquista, citando o exemplo do Uruguai, onde a esquerda trabalhista se reuniu em uma única frente (a Agremiação Uruguaia), assim como a esquerda política (Frente Ampla).
“É um desafio grande, principalmente para as centrais sindicais, que tem função de consolidar o papel dos trabalhadores como coluna vertebral para a construção de uma transformação no sistema. Mesmo com as diferenças de cada país e as singularidades de cada país, é preciso organizar para transformação internacional, mas sempre baseando na unificação”., não na fragmentação.