Bloomberg
Emma Ross-Thomas e Charles Penty, de Madri
A Espanha planeja realizar outra rodada de “testes de estresse” bancários e as instituições de poupança com falta de capital terão de levantá-lo por conta própria, com uso “limitado” dos recursos do Frob, o fundo de resgate governamental, segundo o primeiro-ministro do país, José Luis Rodríguez Zapatero.
As instituições de poupança serão testadas “imediatamente” e as que precisarem de capital deverão obtê-lo “indo ao mercado”, afirmou Zapatero, em entrevista ontem para a rádio “Onda Cero”. “Se alguma não puder, então terá ajuda do Frob, mas isso será limitado”, afirmou.
O governo socialista, que se depara com o aumento nos custos de captação de recursos, tenta convencer os investidores de que o sistema financeiro não representa ameaça para as finanças públicas, enquanto o Banco da Espanha, autoridade monetária do país, defende maior transparência nas instituições de poupança.
Em julho, a rodada europeia de testes de estresse bancários mostrou que as instituições de poupança espanholas têm déficit de capital de ?1,8 bilhão e ajudou a melhorar seu acesso aos mercados de capitais, reduzindo o rendimento pago pelos títulos de dívidas públicos.
“Qualquer coisa que traga mais transparência e informação é algo bom”, disse o analista Héctor Martínez, da Mirabaud Finanzas, em Madri. “Não acho que haverá nada revolucionário, porque já sabemos o que os reguladores pensam.”
A diferença entre o rendimento dos bônus de dez anos da Alemanha e Espanha caiu para 243 pontos-base ontem, em comparação aos 249 pontos-base do dia anterior. A média na primeira década da união monetária foi de 15 pontos-base e o recorde, de 298 pontos-base, foi verificado em 30 de novembro.
A autoridade bancária europeia planeja uma nova rodada de testes de estresse coordenados neste ano, mesmo sem ter ainda um acordo final sobre os critérios a serem usados nem tendo anunciado uma data para a divulgação dos resultados.
Zapatero disse ao Parlamento em 22 de dezembro que os novos testes europeus serão “mais transparentes” e amplos que os de julho, mas não detalhou se haverá coordenação em seus testes com outros países europeus. Franca Rosa Gongiu, porta-voz da autoridade bancária, não foi encontrada para comentar o assunto de imediato.
“O problema fundamental é que os céticos apenas serão tranquilizados se forem presumidos drásticos ‘haircuts’ (porcentagem do ativo que não pode ser usada como garantia) nas dívidas soberanas”, afirmou Simon Maughan, cochefe de renda variável na MF Global U.K. Ltd., em Londres, em entrevista por telefone. “Poderíamos argumentar que a última rodada de testes de estresse da Espanha já foi bastante draconiana em termos de suposições econômicas.”
O Frob, fundo de resgate bancário do governo espanhol criado em 2009 com ?9 bilhões e com capacidade para levantar mais ?90 bilhões em dívidas, já comprometeu cerca de ?11 bilhões para apoiar uma série de fusões de instituições de poupança. O valor é equivalente a 1% do Produto Interno Bruto (PIB) e se materializa na forma de empréstimos.
As instituições de poupança estão aderindo ao processo de reestruturação, convencidas pelo Banco da Espanha de que provavelmente não terão capacidade para levantar capital nos mercados por pelo menos um ou dois anos, afirmou Martínez. Enquanto isso, o banco central contará com o Frob para apoiar o sistema, disse.
O Banco da Espanha, que também atua como regulador do setor, pediu às instituições para fornecer dados adicionais sobre sua exposição no mercado imobiliário. As informações deverão ser divulgadas nas próximas semanas.
Zapatero também disse que o déficit orçamentário geral em 2010 foi “um pouco” melhor do que a meta de 9,3% do PIB. Em 2009, havia sido de 11%. O primeiro-ministro reiterou o compromisso de que o déficit cairá para a meta de 6% neste ano, o dobro do limite da União Europeia.