O descaso da Caixa Econômica Federal com seus funcionários integrantes das carreiras profissionais – como engenheiros, arquitetos, advogados, médicos e outros – provocou a paralisação de atividades importantes desenvolvidas pelo banco, como os projetos do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal – e também o setor jurídico da instituição. No Espírito Santo, a greve por tempo indeterminado que começou nesta terça-feira, 28, envolve engenheiros, arquitetos, médicos e assistentes sociais da Caixa. Esses trabalhadores, junto com o Sindicato dos Bancários/ES, realizaram um ato hoje em frente ao edifício Corporate Center, na Enseada do Suá, onde funcionam departamentos da CEF. A próxima assembléia do segmento será nesta quarta-feira, dia 29, às 16 horas, na sede do Sindicato, no Centro de Vitória.
O movimento, que é nacional, é a resposta do segmento ao descumprimento pela CEF do compromisso assumido na Campanha Salarial 2008 da categoria bancária. O banco se comprometeu a implantar um novo plano de cargos e salários que unificasse as carreiras profissionais, com base em pesquisas de mercado e visando resolver distorções de jornada (hoje existem jornadas de 6 e 8 horas) e de salário. As propostas da Caixa apresentadas na mesa de negociação com os profissionais, até então, não cumprem esses objetivos e impõem restrições para a migração, exigindo, por exemplo, que os bancários da carreira profissional desistam de ações na Justiça.
“Os integrantes da carreira profissional representam cerca de 2.400 profissionais num universo de quase 80 mil empregados da Caixa no Brasil. Então, historicamente, a gente vem ficando pra trás em termos de valorização e reconhecimento, apesar de as nossas atividades estarem diretamente ligadas à missão da Caixa”, afirma Edílson Mendes, que representa os engenheiros do Espírito Santo no comando nacional da greve.
Na avaliação de Ângelo Ricardo Alves da Rocha, representante dos advogados do Espírito Santo, a Caixa já vem há muitos anos sucateando as carreiras profissionais: “A indignação dos profissionais se dá principalmente porque o nosso trabalho é valorizado por outras empresas no mercado e nós, da Caixa, ficamos à margem desse movimento. Hoje temos disparidades tanto em relação ao mercado externo – nós ganhamos 1/3 do que ganham os advogados da União, por exemplo, – como em relação ao mercado interno, ou seja, no interior do banco. Recebemos um terço ou um quarto do que um profissional que trabalha em outras empresas e, dentro da Caixa, estamos à margem de várias carreiras, especialmente das carreiras gerenciais, que se preparam para uma nova revisão do plano para as funções comissionadas. Provavelmente a diferença vai aumentar”.
Segundo Ângelo Ricardo, existem empregados da Caixa em várias funções cujo acesso por concurso público exige apenas o ensino médio que recebem, pelo menos, o dobro do que os empregados da carreira profissional “sendo que para nossas funções é exigido curso superior completo; e a grande maioria dos profissionais tem pelo menos um curso de especialização ou mestrado na área”.
Confira a íntegra da entrevista concedida por Edílson Mendes, que representa os engenheiros do Espírito Santo no comando nacional da greve.
Por que esse movimento dos empregados da carreira profissional da Caixa?
A gente vem lutando já há algum tempo para conseguir a valorização da nossa carreira profissional. Existem muitas distorções, os empregados estão distribuídos em vários planos de carreira, com jornadas diferenciadas, algumas pessoas foram promovidas outras não. A Caixa divide o segmento.
Vocês querem a unificação da carreira em que bases?
A gente quer a unificação da carreira, ou seja, um único plano, e que o piso e o teto sejam parecidos com os praticados no mercado, em outras instituições públicas e privadas que têm atividades semelhantes às nossas, com o mesmo grau de responsabilidade e atividades afins.
Os salários estão defasados?
Hoje o profissional que trabalha 25 ou 28 anos na Caixa sai com o salário menor do que o piso previsto em alguns concursos públicos de instituições parecidas com a nossa, como, por exemplo, o BNDES, a PGU ou o Tribunal de Contas da União. Nessas instituições, o salário inicial para um engenheiro que acabou de se formar na faculdade e passou num concurso é maior do que o de um engenheiro da Caixa com 30 anos de experiência.
As propostas da CEF nas negociações com os empregados não contemplam a unificação e a revisão salarial?
Não. Apesar da cláusula 47ª do Acordo Coletivo 2008/2009 informar que a Caixa se comprometia, até o primeiro trimestre de 2009, a implantar um novo plano de cargos que unificasse a categoria baseado em pesquisas de mercado e resolvendo as distorções, o banco apresentou até agora três propostas, sendo todas com sérias restrições para a migração, exigindo a desistência de ações na Justiça e vinculando a migração ao saldamento de planos da Funcef (fundo de pensão dos empregados da CEF). A Caixa não apresenta os dados em que se baseou para fazer as propostas. A nossa proposta foi apresentada com base em números pesquisados no mercado. Mas o banco discordou da nossa proposição e apresentou três propostas diferentes, com números totalmente divergentes e sem dizer quais foram as fontes de pesquisa. Para completar, a Caixa não permite que todos possam aderir a essa nova estrutura que será criada, ou seja, o banco não quer unificar, quer dividir ainda mais o segmento.
Só poderia aderir quem fez o saldamento do plano REG/Replan da Funcef?
Sim. E além disso, o banco só permite a migração para a nova estrutura para quem já faz parte de um plano que ela apresentou em 2006. Então, existem vários colegas do PCS 89 e do PCS de 98 que não estariam aptos a migrar. Essas pessoas continuariam onde estão, inclusive em carreiras em extinção. Esse é um dos motivos, além daquelas distorções já citadas, que levaram à greve por tempo indeterminado.
Essa é a primeira greve desse segmento. Vocês chegaram ao limite?
Os integrantes da carreira profissional representam cerca de 2.400 profissionais num universo de quase 80 mil empregados da CEF em todo o Brasil. Então, historicamente, a gente vem ficando pra trás em termos de valorização e reconhecimento. E hoje esses 2.400 profissionais são responsáveis pela implementação de diversos programas do Governo Federal, como o PAC, o Minha Casa Minha Vida. Todos os recursos do Orçamento Geral da União que vêm para os municípios e os estados passam pela Caixa; e todo e qualquer projeto para ser implementado precisa da análise e avaliação desses profissionais. E depois, no momento de executar essas obras, os engenheiros e arquitetos são os responsáveis por fazer as vistorias e autorizar os repasses dos recursos. Então é muita responsabilidade; as nossas atividades estão diretamente ligadas à missão da Caixa, porém os profissionais não vêm tendo o reconhecimento por parte da empresa.
Com essa greve, os projetos do PAC estão todos parados?
Sim, estão todos parados. Não vai haver liberação, nem vistoria, nem análise.