Valor Econômico
Fernando Travaglini
O fluxo de dólares para o país bateu recorde no primeiro trimestre do ano. O saldo da movimentação de divisas (ingressos menos saídas) ficou positivo em US$ 35,592 bilhões entre janeiro e março, maior valor da série histórica do Banco Central (BC) para o período. O volume é mais que o dobro do recorde anterior, de 2006 (US$ 17,7 bilhões).
Em março, as entradas superaram as saídas em US$ 12,66 bilhões, resultado de US$ 37,969 bilhões em contratos de compra (entrada) menos US$ 28,972 bilhões em operações de retirada de capital (saída), segundo dados do BC.
A conta financeira, que registra a movimentação para aplicações em títulos e ações, além do investimento estrangeiro direto, teve fluxo positivo de US$ 8,997 bilhões.
Já a conta comercial, resultado das compras e vendas de bens e serviços feitas com o resto do mundo, teve saldo positivo de US$ 3,663 bilhões, com os exportadores se precavendo de medidas mais duras do governo e trazendo para o país parte dos seus dólares. Foi o maior volume trazido pelos empresários em anos.
Nas últimas semanas o fluxo de moeda estrangeira para o país viveu forte volatilidade, justamente pela expectativa de um maior controle de capital. A enxurrada de dólares no início do mês, da ordem de US$ 13 bilhões, foi uma consequência direta da tentativa de investidores de se antecipar a medidas mais duras por parte do governo, segundo fontes oficiais.
Após a taxação de 6% para os empréstimos externos de até um ano de prazo, no entanto, os aplicadores avaliaram que a artilharia do Ministério da Fazenda não era tão pesada quando se pensava e realizaram uma retirada de quase US$ 2,5 bilhões em cinco dias.
A volatilidade se manteve na última semana do mês, com o fluxo retornando ao patamar positivo em US$ 2,143 bilhões. No primeiro dia de abril, o fluxo voltou a ficar negativo, em US$ 365 milhões.
Como consequência do fluxo desproporcional, o BC teve que agir com mais vigor e adquiriu US$ 25,854 bilhões no primeiro trimestre do ano, sendo US$ 1,355 bilhão em contratos a termo de moedas. As reservas foram engordadas e atingiram US$ 316,892 bilhões no primeiro dia de abril.