Encontro de novos bancários do Nordeste surpreende

(Recife) Terminou no final da tarde de sábado o I Encontro de Novos Bancários do Nordeste, realizado no Hotel Jangadeiro, em Boa Viagem, Recife, PE. Noventa e um delegados representantes da base da Fetec-NE – Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito no Nordeste mostraram que os novos bancários, ao contrário do que imaginam dirigentes e colegas veteranos, têm, sim, preocupações coletivas para além do imediatismo de salários e carreiras – embora lutem por isso também -, e da própria corporação. O nível de participação e a qualidade das intervenções surpreendeu, inclusive, os expositores convidados.

“Estou muito impressionada com a rapidez com que eles captam as informações, processam e devolvem com propriedade. Eles estão prontos”, resume a professora da Unicamp, Maria Alejandra Madi, economista.

Para Lucius Fabini, presidente da Fetec-NE, o retorno proporcionado pelos participantes mostra que é preciso continuar investindo na integração com os novos bancários, e em sua formação. “Eles provaram que estão sedentos de informação e de participação. Todas as palestras tiveram presença integral até o fim, e número mínimo de intervenções foi de 10 pessoas”, observa.

Entre os coordenadores das comissões de empresa dos bancos do Brasil, do Nordeste e da Caixa, a experiência foi extremamente rica. Marcelo Barros, Tomas Aquino e Plínio Pavão, pela ordem, foram unânimes em elogiar a iniciativa e a qualidade da participação. Para eles, o Encontro dos Novos Bancários do Nordeste deve servir como exemplo para outras federações de trabalhadores bancários nas demais regiões do país.

Já, para os protagnistas, o encontro não acabou no sábado. Continua nos locais de trabalho, para onde os representantes delegados vão levar o que aprenderam para debater com os colegas.

A realidade como ela é
Maria Alejandra falou sobre A Organização do Sistema Financeiro, incluindo as mudanças ocorridas, sobretudo na estratégia de atuação dos bancos públicos, a partir de 1998/99. Deixou para dirigentes, veteranos e novos bancários um recado bem claro: Não dá para ter ilusões quanto alteração de rota nos bancos públicos. “Não há mudança à vista. A menos que se mudem as relações políticas com o Estado”, vaticina.

Ela lembra que a bancarização está se dando fora das agências e, quando dentro, o aumento do número de clientes não melhora as condições de atendimento. Significa que o processo de incorporação de lucro pelos bancos, cada vez mais, se dá, de um lado, à custa do emprego bancário, de outro à custa da saúde do trabalhador. A atividade, por sua vez, deixou de ser específica, perdeu o status, o que, no entender da professora, explica a queda na sindicalização. A saída: buscar a aliança com outros segmentos e a contratação de marco regulatório para todos. Ou seja, a contratação por ramo. “É preciso procurar ver o que pensa o outro lado, mas não pensar como eles”, aconselha.

A força da organização
A observação de Maria Alejandra se encaixa, perfeitamente, no alerta feito pelo também economista e professor – da Universidade Federal de Alagoas – Cícero Péricles de Carvalho, autor da palestra de abertura do encontro, na noite do sábado, 14: “Política é força. Quem tem força impõe. Quem não tem, faz aliança”. Péricles aludiu às dificuldades do governo Lula, de orientação popular, em levar a efeito políticas sutentáveis e sociais, na medida e intensidade que deveria ou gostaria. A pedra no meio do caminho, de acordo com o professor, chama-se maioria política, que o governo não tem nem no Congresso, nem nos governos dos Estados, muito menos nas prefeituras, que consomem 97% dos gastos de governo.

“Continuamos na tarefa cotidiana de nos organizar. Sem pressão organizada dos movimentos sociais a soc iedade não avançará”, afirma. Cícero Péricles fez um amplo retrospecto da conjuntura política e econômica brasileira desde os anos 30. Na conjuntura atual, chamou a atenção para o custo social da dívida interna, da ordem de R$ 1,4 trilhão, quando era de R$ 881 bilhões em 2002; mas de R$ 108 bilhões em 1994. A preços de 2005, só o serviço da dívida foi de R$ 140 bilhões, enquanto os gastos sociais com sáude, educação e segurança somaram R$ 100 bilhões. “O governo faz um esforço brutal e não consegue pagar a dívida, por quê? Porque o jogo de forças políticas é desigual. Tudo passa pela política”, traduz Péricles.

E quem são os donos dos títulos da dívida pública? Os bancos, com 51%; os fundos de investimento, com 25%; os fundos de pensão, inclusive os de trabalhadores bancários como Previ, Funcef, etc., com 17%; e empresas não financeiras, com 7%.

“A taxa de juros cai muito devagar, porque, como se pode ver pelo quadro de credores, a disputa pela taxa selic é brutal”, exemplifica.

Com a palavra, novos bancários
Embora no movimento sindical não haja lugar para utopias, como bem disse o professor Cícero Péricles, a representação dos novos bancários presente ainda acredita no sonho. É o que se pode deduzir das manifestações nos dois dias. Leia algumas:

“Nós bancários prestamos um serviço à sociedade, e temos que ter consciência de que a gente pode transformá-la”, prega um bancário da Paraíba, nascido no Maranhão e criado no Piauí.

Elvira, do Ceará, ressalta a importância da consciência que cada bancário deve ter de seu papel na melhoria da vida das pessoas: “Está certo que a gente colabora com o spread dos bancos, mas não é tudo. Quando a gente atende bem uma pessoa no FGTS ou no Caixa, a gente interfere positivamente na qualidade de vida dessa pessoa. No mínimo, não a deixamos infeliz”, argumenta.

Reginaldo, de Pernambuco, acredita que, cada vez que participa de uma atividade do movimento, aprende mais. “É pena que alguns colegas não entendan a riqueza dessa participação”, diz.

Outro bancário, do BNB do Piauí, exorta os colegas a entrar na briga: “Não adianta ficar lá reclamando. Tem que se mobilizar e entrar na luta. A participação dos bancários do BNB nas assembléias e nas greves é pífia. Assim não vamos a lugar algum.”

O Encontro de Novos Bancários do Nordeste foi encerrado com uma performance poética do presidente do Sindicato dos Bancários de Pernambuco e secretário-Geral da Fetec-NE, Marlos Guedes. Um dos poemas associa a expropiação bancária ao mercantilismo religioso.

A nota triste do encontro: o falecimento, em acidente de automóvel, do militante e ex-presidente do Sindicato dos Bancários da Paraíba, no triênio 1997/2000, Israel Guedes Pereira. O acidente aconteceu na madrugada do dia 15, próximo à Alagoa Grande, na Paraíba. Fabiani e parte da delegação da Paraíba deixaram o encontro antes do final para acompanhar os funerais.

Fonte: Sulamita Esteliam – Seec PE

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