Emergentes terão maior participação na consolidação financeira internacional

Valor Econômico
Assis Moreira, de Genebra

As economias emergentes terão uma parte crescentemente proeminente na futura consolidação internacional do setor financeiro, avalia um grupo do Banco Internacional de Compensações (BIS), espécie de banco dos bancos centrais.

A demanda por serviços financeiros por empresas multinacionais e o rápido crescimento de economias emergentes devem formatar a atividade bancária internacional e sua contribuição para o desenvolvimento econômico no futuro, diz o relatório do Comitê sobre o Sistema Financeiro Global (CSFG).

Um deslocamento dos fluxos de comércio e da produção multinacionais para mercados emergentes deve acelerar a integração financeira, e a consequência poderá ser tanto maior participação de bancos estrangeiros nesses mercados como dos bancos de emergentes no exterior.

Os emergentes terão, assim, mais peso na consolidação financeira internacional tanto entre suas instituições como entre essas e as de países industrializados, diz o estudo.

Nota que os sistemas bancários na Europa do Leste e de vários países da América Latina já são controlados por estrangeiros. A participação externa representa cerca de 45% na concessão de créditos na América Latina. Na Europa do Leste, chega a quase 90%, com os financiamentos sendo fornecidos quase inteiramente por bancos da Europa ocidental desenvolvida.

Em comparação, a presença de bancos estrangeiros é perto de 30% na Europa ocidental e nos Estados Unidos e continua insignificante no Japão e nos emergentes da Ásia.

No fim de março, os bancos brasileiros tinham exposição de US$ 63,3 bilhões no exterior, dos quais US$ 31,5 bilhões nos mercados desenvolvidos. Por sua vez, os bancos estrangeiros ampliaram a participação no Brasil, com o estoque alcançando US$ 403,5 bilhões, sendo US$ 168 bilhões com financiamento internacional e US$ 235,5 bilhões em moeda local.

O relatório dirigido por Hans-Helmut Kotz, ex-membro do conselho do Bundesbank, o banco central alemão, examina questões de longo prazo da atividade bancária internacional.

Conclui que a crise mostrou deficiências nas operações dos bancos internacionais e na gestão de risco, facilitando a rápida transmissão de choques no sistema financeiro global.

Vê sinais de que a rápida expansão de bancos ativos internacionalmente contribuiu para a vulnerabilidade de seus modelos de negócios. Questiona a eficiência de grande tamanho de balanços dessas instituições, e conclui que sua expansão internacional foi facilitada subavaliando riscos.

Ainda exemplifica que a expansão da atividade bancária internacional superou o crescimento do comércio mundial, levantando questões sobre mudanças na relação entre o sistema bancário internacional e a atividade econômica real. O estudo propõe exame cuidadoso do funding dos bancos internacionais e de sua gestão de liquidez.

As jurisdições que acolhem bancos estrangeiros perceberam que as instituições estavam expostas a riscos com origem em terceiros países. O relatório considera que maior exigência de capital mínimo e de colchões de liquidez devem limitar “pressões competitivas excessivas” para um banco crescer no exterior ou tomar mais riscos localmente.

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