O processo de troca de comando no FMI deverá se acelerar com a possível saída de Dominique Strauss-Kahn e pela primeira vez desde que a instituição foi fundada no pós-Guerra, um não-europeu, provavelmente de um país emergente, pode ter mais chances de ser nomeado. Mas ainda é incerto se, no caso de renúncia de Strauss-Kahn, a Europa aceitará abrir mão de poder num momento em que países da região, como Grécia, Irlanda e Portugal, tomam empréstimos no organismo.
Já havia a expectativa de que Strauss-Kahn, que dirige o FMI desde fins de 2007, anunciasse a sua saída até meados de julho para disputar as eleições presidenciais na França, onde liderava as pesquisas. Na semana passada, o segundo homem mais importante na hierarquia, o americano John Lipsky, anunciou que não tentará uma recondução em agosto, quando termina seu mandato.
Tradicionalmente, os Estados Unidos e a Europa sempre dividiram o comando das chamadas instituições de Bretton Woods. Os europeus indicam o diretor-gerente do FMI, e um americano fica com o segundo posto mais importante. O Banco Mundial é tradicionalmente comandado pelos Estados Unidos – hoje, Robert Zoellick.
Os países emergentes fazem pressão para que seja adotado um processo profissional de escolha dos dirigentes, baseado em mérito e não em nacionalidade. Algumas autoridades de países europeus sinalizam mudanças.
O primeiro-ministro da Inglaterra, David Cameron, disse recentemente que agora é a vez de o comando do FMI ir para China, Índia ou algum país do Sudeste Asiático.
Em Washington, há especulações sobre vários nomes, como o turco Kemal Dernis, do Instituto Brookings, Mohamed El-Erian, segundo nome mais importante da gestora de ativos Pimco, e até o brasileiro Armínio Fraga, ex-presidente do BC.
Em entrevista ao Valor na sexta, o diretor-executivo para o Brasil e outros oito países no FMI, Paulo Nogueira Batista Júnior, ponderou que até agora não houve nenhuma declaração formal de americanos e europeus em favor de mudanças no processo de escolha dos dirigentes.
“Houve alguns ruídos aqui e ali, mas nenhuma declaração crível de que os europeus pretendem mudar o processo de escolha no FMI”, disse ele, destacando falar em caráter pessoal. “Seria necessária uma declaração formal dos europeus e americanos para estimular nomes de peso de fora da Europa a lançarem suas candidaturas.”
Para ele, é pouco provável que a Europa vá abrir mão do comando do FMI num momento em que o organismo exerce papel crucial para resgatar países do continente que tiveram suas economias abaladas pela atual crise financeira. “EUA e Europa ainda têm a maioria dos votos no FMI.”
Com europeus dispostos a manter o poder, qualquer nome não-europeu eventualmente apresentado na disputa teria sabor de “anticandidatura”, apenas para protestar contra o sistema de escolha. Em 2007, quando Strauss-Kahn foi eleito, a Rússia chegou a articular a candidatura do tcheco Josef Tosovsky. Sem chances reais na disputa, ele não recebeu apoio nem dos países emergentes. O Brasil apoiou Strauss-Kahn.