Análise de conjuntura, esse é o tema principal da primeira reunião do Comando Nacional dos Bancários em 2016, que começou na noite de segunda-feira (23), na sede da Contraf-CUT, em São Paulo. “Vivemos hoje um momento importante da conjuntura. Temos de levar em conta que enfrentamos um Congresso Nacional inimigo dos trabalhadores e das trabalhadoras. Eles trabalham com uma pauta bomba, com ataques à democracia e aos direitos humanos”, esclareceu Roberto von der Osten, presidente da Contraf-CUT.
Juvandia Moreira Leite, vice-presidenta da entidade, lembrou que a Campanha Nacional 2015 foi muito dura, assim como todo o resto do ano. Ela acredita que este cenário não irá mudar até 2018. “A gente tem que pensar como é que vamos nos organizar e nos preparar para os enfrentamentos que teremos nessa conjuntura”, completou.
A primeira palestra do encontro, que termina nesta terça-feira (23), foi de Guillermo Maffeo, recém-eleito diretor regional da UNI Américas Finanças. “É muita responsabilidade para mim, a primeira atividade neste cargo ser na Contraf-CUT, que é a principal entidade da Uni Américas. Sinto-me orgulhoso por participar da primeira reunião deste grupo, que será responsável pela próxima campanha dos bancários de todo o Brasil.”
Para ele, a luta mais eficaz contra a direita e contra as multinacionais, que não respeita os direitos dos trabalhadores, os direitos do povo, é a construção de sindicato fortes, sindicatos com trabalhadores na rua. “Creio que nós, como líderes sindicais, tomar as ruas é a melhor forma de lutar contra a direita. Direita que avança em toda a região.”
O diretor regional da UNI Américas Finanças destacou que a luta da CUT e da Contraf é um exemplo para todos os outros sindicatos da região. “Quando vocês saem as ruas para defender direitos e salários, não estão defendendo só isso. Estão defendendo a democracia, estão defendendo governos que se preocupam com a população, está defendendo o povo”, conclamou.
Maffeo ainda exaltou a importância da bancária brasileira Rita Berlofa assumir o cargo de presidenta mundial da UNI Finanças. “É muito importante que tenhamos uma presidenta como ela, que é fruto dessa casa, fruto dessa luta, fruto dessa reunião. O sindicalismo bancário brasileiro é de suma importância e se reflete nos demais sindicatos da região. A Contraf-CUT tem a responsabilidade de cooperar com as atividades sindicais de países menores, como Paraguai e Costa Rica”, alertou.
Ele contou que, no ano passado, um projeto da Costa Rica ameaçava as empresas públicas do país. “Fomos até lá e fizemos uma marcha – que foi a primeira depois de 20 anos sem atividades na Costa Rica – com 200 bancários. Esse foi o começo de uma marcha, um mês depois, com mais de 15 mil trabalhadores de todas atividades públicas. O movimento acabou com o projeto de lei que tentava acabar com o setor publico.”
Avanços da direita
O dirigente sindical argentino fez um balanço dos dois meses do governo Macri, primeiro governante de direita eleito democraticamente em seu país. “Nesses 60 dias de governo já foram tomadas as primeiras medidas contra os trabalhadores, como punição ou demissão de funcionários públicos que não compartilhavam com a ideologia do governo. Para a sociedade, através dos setores de comunicação, passaram que todos eram ladrões do estado, que eram vagabundos.”
E não para por aí. Na primeira semana de governo, os bancários souberam que o Banco Central despediria 47 trabalhadores. Esses 47 trabalhadores pertenciam a oficinas que fecharam, como a defesa do consumidor e defesa dos direitos humanos e garantia. “Fizemos 35 dias de manifestação para defender esses companheiros e saímos num só meio de comunicação. Há 5 dias fizemos um acampamento, 24 horas por dia, para não deixar sair dinheiro do Banco Central e não saímos em nenhum meio de imprensa. Isso foi a 150 metros da sede do governo, a 100 metros da principal praça da argentina”, relatou.
Ainda no início de janeiro, o governo Macri tomou mais uma medida antidemocrática. “Prenderam uma companheira que fez um protesto na rua. Os meios de imprensa foram desvirtuando a situação da companheira, falando em corrupção, desvio de verbas públicas. Eu tenho algumas divergências com a companheira, mas não podemos deixar que a impeçam de protestar, de defender seus direitos. Ela queria construir habitações para pobres, com centros de lazeres melhores do que os clubes privados, e acabou presa”, denunciou. “Agora, na Argentina, a lei tem efeito para os pobres, para os trabalhadores, para os dirigentes sindicais e para os dirigentes dos movimentos sociais. Mas não tem nenhum efeito para os empresários, para os poderosos, para os políticos que retiram direitos dos trabalhadores”, completou.
O diretor regional da UNI Américas Finanças apontou os malefícios dessa política para o país. “O Citibank vai fechar suas operações na argentina, porque não tem mais acesso ao credito, não tem mais programas voltado à população, então não é um bom negócio para eles. Só na província de Buenos Aires, mais de 1000 bancários perderão seus empregos.”
Maffeo ainda lamentou a intenção do governo de acabar com protestos e manifestações. “Eles querem criar um lugar para se protestar isoladamente. Nós, como sindicalistas, sabemos que os protestos são importantes e divulgados se mexerem com a sociedade, para sim podemos explicar nossas causas. Há ainda um protocolo que determina que quando os policiais chegarem a m protesto de rua, os sindicalistas têm 5 minutos para liberar a via. Se em 5 minutos as vias não foram liberadas, a polícia tem permissão para reprimir a manifestação com bala de goma. Mais 5 minutos, a polícia tem que avançar com os tanques e, em última instancia, usar armas de fogo.”
Na terça-feira (23), às 10h, a convite da Contraf-CUT, o senador Roberto Requião (PMDB) falará sobre conjuntura política.