Em protesto, bancários comparam fusão Itaú Unibanco a casamento

Criatividade e irreverência marcaram mais um protesto do Sindicato dos Bancários de São Paulo. Desta vez, foi sacramentado o “casamento” entre Itaú Unibanco.

Clique aqui para ver o vídeo do casamento.

A cerimônia lúdica realizada nesta quarta-feira, 24 de março, no Centro Empresarial Itaú Conceição (Ceic), em São Paulo, contou com todo o aparato de um casamento de verdade: convidados, padrinhos, padre, dama de honra, troca de “alianças” (ações), juramento e a contestação da união por um dos presentes: o presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino.

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A manifestação bem-humorada, promovida pelo Sindicato, tem como objetivo denunciar que a fusão entre Itaú e Unibanco está beneficiando apenas acionistas e executivos das instituições, deixando os trabalhadores no prejuízo.

Por volta do meio-dia, a cerimônia começou com a entrada dos padrinhos – os donos dos outros bancos – ao som da música The Godfather, tema do filme O Poderoso Chefão. Logo depois vieram os noivos, antecedidos pela dama de honra que espalhava dinheiro pelo tapete vermelho por onde caminhavam os grandes protagonistas do dia.

Devidamente posicionados, os noivos ouviram a liturgia da palavra. Logo depois, a grande pergunta: “Você, Pedro Moreira Salles, principal executivo do Unibanco, aceita por livre e espontânea vontade de obter mais lucros, casar-se com o Itaú?”. A resposta: “sim”. O mesmo foi perguntado para Setúbal, que também não vacilou e respondeu alegremente “sim”. Felizes, selaram a união com um grande abraço.

O próximo passo foi o juramento. E ambos, solenemente repetiram: “Eu, Pedro Moreira Salles/Roberto Setúbal, principal executivo do Unibanco/Itaú, comprometo-me contigo, Roberto Setúbal/Pedro Moreira Salles, principal executivo do Itaú/Unibanco, nesta mega fusão, a ser-te fiel, gerar altos lucros, ter alta rentabilidade, exigir produtividade a qualquer custo dos bancários e bancárias e respeitar-te nas suas idéias de rebaixamento de pagamento de PLR, retirada de diretos, nas demissões e na cobrança de metas abusivas todos os dias da nossa vida”. Satisfeito, o padre deu a benção: “Em nome do capital, do sistema financeiro e da Fenaban”.

Chegava, então, o momento mais aguardado. A troca de ações, com os famosos dizeres: “Pedro Moreira Salles/Roberto Setúbal, recebe estas ações e ativos financeiros do meu banco, como sinal do meu amor pelo lucro e da minha vontade de remunerar bem os altos executivos em detrimento da maioria dos trabalhadores”.

Quando tudo caminhava para o final feliz, a contestação. Ao ouvir a tradicional frase do padre – “Há alguém ou alguma coisa que possa ser dita contra este casamento? Se há, que se manifeste agora ou se cale para sempre” -, o presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino, manifestou sua oposição à união que nada de bom significou para os trabalhadores, afirmando que apenas os acionistas e executivos dos bancos estavam se beneficiando com a fusão e os trabalhadores ficando no prejuízo.

“Na ocasião do anúncio da fusão, a direção dos dois bancos disse que a fusão seria boa para todo mundo. Nove meses mais tarde, quando saiu o balanço, ficou visível que os trabalhadores foram prejudicados, especialmente no pagamento da PLR”, diz Marcolino. “Os clientes também estão sendo prejudicados durante o processo já que há muitas agências funcionando em obras de adequação de lay out, o que compromete o já frágil sistema de segurança”, completa.

Constrangidos, os agora recém-casados deixaram a cerimônia sob chuva de arroz. Para os convidados, moedinhas de chocolate como lembrancinhas do enlace.

Bancários do Ceic são contra o “casamento”

A tradicional pergunta do padre na cerimônia de casamento – “Se existe alguém contra essa união, fale agora ou cale-se para sempre” -, nunca teve tantas manifestações contrárias como no enlace entre Itaú e Unibanco. Os bancários, além de levantarem a mão como demonstração de repúdio ao “casamento”, relataram os motivos que os levam a ser contra a fusão.

“Essa fusão só trouxe as coisas ruins do Unibanco”, afirmou um funcionário que não será identificado. Questionado qual a opinião sobre a remuneração dos altos executivos do banco, ironizou: “Dispensa comentários. Eles devem ganhar tão mal”.

Uma outra bancária revelou que o ambiente de trabalho piorou com a fusão. “Estamos sendo muito cobrados a atingir metas, porém o banco não está cumprindo com sua contrapartida, basta olhar que não recebemos os dois salários de PLR esse ano”.

Um outro funcionário que desceu para assistir e prestigiar o protesto bem-humorado elogiou a criatividade. “A idéia do casamento foi excelente. Esse tipo de manifestação contribui muito para reflexão, principalmente para os bancários mais jovens”.

Os trabalhadores do Ceic que não puderam descer para prestigiar o casamento assistiram a cerimônia das janelas do prédio, que ficaram lotadas, servindo como uma espécie de camarote.

E como em qualquer cerimônia, depois de consolidada a união, se diz “até que a morte vos separe”, para os bancários o encerramento vem com: até que o Itaú Unibanco pague 2,2 salários de PLR os protestos irão continuar.

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