Economista explica porque ex-presidentes do BNDES defendem o banco

O economista Paulo Faveret publicou um texto em seu perfil no Linkedin comentando matéria do jornal Correio Braziliense, publicada em 19 de junho, informando que oito ex-presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) assinaram a “Carta em defesa do FAT, do BNDES e do desenvolvimento”, divulgada no mesmo dia, data em que o BNDES completou 67 anos, durante ato promovido pela Associação dos Funcionários do banco, na sede do banco, no Rio de Janeiro. A atividade contou com a presença de quatro dos signatários do documento (Pio Borges, Luciano Coutinho; Paulo Rabello de Castro; e Dyogo Oliveira). Os outros quatro são Andrea Calabi, Luiz Carlos Mendonça de Barros, Demian Fiocca e Márcio Fortes.

Para Faveret, o BNDES é uma organização mal compreendida, que segue as diretrizes de cada governo, mas sempre com olhar de longo prazo, o que faz com que o banco atravesse mandatos de presidentes com diferentes orientações ideológicas, mas mantenha seu caráter de sustentação financeira do investimento.

Em seu texto, o economista lembra que a Constituição de 1988 definiu o BNDES como responsável para administrar uma poupança dedicada a sustentar o investimento. Foi atribuída ao BNDES a tarefa de administrar esse sistema. Ele defende a legitimidade dos esforços empreendidos hoje no sentido de mudar tal definição, mas que “é preciso ficar claro que a opção envolve a troca de uma fonte estável de apoio ao investimento pelo financiamento de despesas correntes”.

Ele explica ainda que os oito ex-presidentes do BNDES assinaram a “Carta” porque defendem a importância do banco para o desenvolvimento nacional, além da manutenção de uma fonte estável de recursos públicos. O autor ainda e apresenta uma série de reflexões sobre os questionamentos que estão sendo colocados com relação à atuação do banco.

Leia abaixo a íntegra do texto do economista Paulo Faveret.

Meu comentário sobre a matéria “Oito ex-presidentes do BNDES divulgam carta em defesa do banco e do FAT”

O BNDES é uma organização mal compreendida. O banco é tão complexo quanto os requerimentos do desenvolvimento do Brasil, uma vez que essa é sua missão há 67 anos. Ele segue as diretrizes de cada governo, sempre com olhar de longo prazo, o que necessariamente atravessa mandatos de presidentes com diferentes orientações ideológicos. Seu campo comum tem sido a sustentação financeira do investimento por vários instrumentos, sempre atualizados segundo a boa prática nacional e internacional.

Em um país orientado para o curto prazo, o Constituinte de 1988 entendeu que era necessário reservar uma poupança dedicada a sustentar o investimento e atribuiu ao BNDES a nobre tarefa de administrar esse sistema. Hoje há esforços de alterar a definição de três décadas. Não há ilegitimidade nesse novo pensamento, mas é preciso ficar claro que a opção envolve a troca de uma fonte estável de apoio ao investimento pelo financiamento de despesas correntes em face da agoniante situação fiscal, sobretudo previdenciária.

É nesse contexto que oito ex-presidentes do BNDES assinaram carta em que defendem a importância do banco para o desenvolvimento nacional e da manutenção de uma fonte estável de recursos públicos.

Os oito ex-dirigentes signatários da carta trabalharam em sete mandatos de cinco Presidentes da República, a saber:

1) Paulo Rabello de Castro e Dyogo Oliveira (Temer);
2) Pio Borges, Andrea Calabi e Luiz Carlos Mendonça de Barros (FHC);
3) Luciano Coutinho (Lula e Dilma);
4) Demian Fiocca (Lula); e
5) Márcio Fortes (Sarney).

Eles representam governos de orientações ideológicas muito distintas. Os contextos macroeconômicos eram muito diversos também. Apenas um foi de carreira (Pio Borges). Há de liberais clássicos até desenvolvimentistas convictos, passando por burocratas públicos, empresários, gestores de mercado financeiro, portanto, uma variedade grande de trajetórias profissionais.

Daí surgem perguntas.

Será que todos eram corruptos? Será que todos foram cooptados pelo corporativismo dos empregados? Será que eles estão todos enganados sobre a relevância do banco para a economia brasileira? Será que eles foram obrigados a assinar a carta? Será que eles pensam da mesma maneira? Será que eles concordam integralmente nos detalhes sobre as tarefas do banco no século XXI? Será que eles acham que o BNDES é perfeito e imutável?

Ou será que conheceram a complexidade das tarefas do banco e sua sofisticada e singular capacidade de lidar com elas? Ou será que reconhecem a competência dos empregados e seu compromisso com a ética ao longo de quase sete décadas? Ou será ainda que entendem a natureza mutante das tarefas e a responsabilidade de executar políticas públicas de governos diferentes? Por fim, será que comungam de um pragmatismo bem informado que sugere a importância de instituições orientadas ao desenvolvimento, capazes de construir o longo prazo em meio às circunstâncias flutuantes da conjuntura?

Eu respondo “não” para as perguntas do primeiro bloco e “sim” para as do segundo. E você?

Tais respostas não eximem o banco de aprimorar seus processos permanentemente, nem impedem os governos de alterar sua missão, seu escopo de atuação, bem como os instrumentos que utilizam. Elas apenas sugerem que não se deve tratar de maneira leviana uma organização que há sete décadas mantem relevância na nobre jornada em busca do desenvolvimento sustentável do Brasil.

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