Ditadura militar gerou atraso histórico ao Brasil, dizem palestrantes

Adriano Diogo e Rose Nogueira emocionaram o plenário: ditadura, nunca mais

Rede de Comunicação dos Bancários
Carlos Vasconcellos e Andréa Souza

O deputado estadual paulista Adriano Diogo (PT-SP), presidente da Comissão da Verdade Rubens Paiva da Assembleia Legislativa de SP, e a jornalista e ex-presa política Rose Nogueira, coordenadora do Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo, foram os palestrantes do painel Em Defesa da Democracia – Ditadura Nunca Mais, incluído na 16ª Conferência Nacional dos Bancários com o propósito de discutir os efeitos do golpe militar de 1964, no momento em que ela completa 50 anos.

Veja aqui a entrevista de Rose Nogueira no painel Em Defesa da Democracia

Rose Nogueira, presa em 1969 um mês depois de dar à luz seu único filho e companheira de cela de Dilma Rousseff, emocionou os 700 delegados e observadores ao narrar as torturas que sofreu. Para ela, o golpe de 1964 representou um atraso histórico no país e que ainda hoje o povo brasileiro sofre as consequências negativas daquele período.

“Faz 50 anos que nosso país foi tomado de assalto por um golpe cruel e imperialista. A ditadura nos tirou muitas coisas, nos impôs a censura, lançou milhares de brasileiros ao exílio. Foi a ditadura que promoveu a luta armada contra o povo brasileiro. Nós temos orgulho de ter participado da resistência ao golpe”, ressaltou.

Rose destacou os prejuízos nos campos social, econômico e ambiental como heranças da ditadura e os privilégios concedidos pelo regime ao empresariado. “O regime militar aprofundou a miséria no Brasil. A Transamazônica, por exemplo, promoveu um genocídio dos índios e um dos maiores desmatamentos da história com o objetivo de abrir campo para o gado.”

‘Ditadura e tortura, nunca mais’

Ao falar de sua experiência com a prisão e a tortura, a palestrante emocionou a plateia e foi aplaudida de pé. “Eu tinha 18 anos quando foi deflagrado o golpe. Fui presa em 1969. O delegado Sérgio Fleury ameaçou levar meu filho de um mês de idade. A tortura era uma política de Estado. Após ter meu filho, sangrava e não podia sequer tomar banho. Cheirava a sangue e leite azedo. Tive sequelas. Fui esterilizada. Sonhava em ter muitos filhos… Ditadura e tortura, nunca mais”, concluiu.

A presidente em exercício do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Adriana Nalesso, que coordenou a mesa, lembrou da tortura e morte do ex-presidente da entidade, Aluízio Palhano, assassinado no DOI-Codi e cujo corpo jamais foi encontrado.

Empresas financiaram o golpe e as torturas

Peesidente da Comissão da Verdade de São Paulo, Adriano Diogo denunciou o papel das empresas no golpe militar de 1964 e o apoio do empresariado brasileiro à ditadura militar. “O golpe foi na verdade civil-militar, mais especificamente um golpe empresarial militar, já que empresas automobilísticas, de comunicação e bancos, entre outras, ajudaram com dinheiro ou logística o regime de repressão que se implantou no país em 1964.”

Ao afirmar isso, Diogo fez um paralelo com a atitude do Santander, divulgada nesta sexta-feira 25 pela imprensa, que ele classificou como uma tentativa de interferir nas eleições presidenciais de outubro, no país. “Há 50 anos, as multinacionais também interferiram na história do Brasil.”

Veja aqui a posição da Contraf-CUT sobre o terrorismo do Santander.

O deputado apresentou trechos do documentário nacional Cidadão Boilesen (2009), que aborda o papel desempenhado pelo empresário Heinning Boilesen na arrecadação de recursos empresariais para a criação e fortalecimento da Operação Bandeirantes (Oban), centro de prisão e tortura montado pelo Exército em 1969, que coordenava ações dos órgãos de combate à luta de esquerda.

Um dos depoimentos do documentário é o do coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra. Adriano Diogo pediu que o vídeo, exibido nos telões do auditório, fosse pausado com a imagem de Ulstra, e denunciou: “Este é um dos maiores assassinos desse país, participou da morte de pelo menos 150 pessoas durante o regime militar”.

A importância do terceiro painel do evento pode ser definida pelas palavras finais da jornalista Rose Nogueira: “Temos de conhecer essa história, e nossos filhos e nossos netos têm de aprender na escola o que aconteceu no Brasil depois com o golpe de 1964”.

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