(São Paulo) No ano de 2004, o diretor de DGP da Nossa Caixa, Itamar Mortagua, tomou a infeliz decisão de demitir cerca de 2 mil funcionários esperando que fosse melhorar o custo-benefício do banco ao extinguir salários. Infeliz porque sua estratégia acabou, na prática, gerando um enorme passivo trabalhista, além de eliminar dos quadros do banco centenas e centenas de profissionais capacitados a gerar lucros para a estatal.
E Itamar parece que não aprende. Após duas reuniões, uma entre o Comando dos bancários e representantes do DGP, realizada no dia 15 de fevereiro, e a segunda com a DRD e um assessor da DGP, na quarta-feira, dia 5, ele insiste em voltar a fazer a mesma coisa, colocando em sua alça de mira os que ele chama de “improdutivos”. Os mais visados são justamente os aposentados. Aqueles que já acumulam anos de experiência e, portanto, têm grande capacidade de fazer a Nossa Caixa melhorar seus resultados.
Estiveram presentes na reunião de quarta os seguintes dirigentes da executiva do Comando: Sônia Zaia (Corep), Dejair Besson (Feeb), Raquel Kacelnikas (Sindicato de São Paulo), Aparecido Roverone (Feeb), Sandra Stefanovitz (Sindicato de Piracicaba), Antonio Sabóia (Sindicato de São Paulo) e Adriana Pizarro (Fetec).
“Se ele fala tanto em custo-benefício para avaliar os funcionários, ou seja, se, para ele, o que vale é se o funcionário traz para o banco mais do que custa, questionamos qual é o custo-benefício do próprio Itamar, pois ele já gerou um passivo trabalhista enorme da primeira vez e quer repetir o mesmo erro agora”, diz Raquel. “Com esta decisão, ele fatalmente vai voltar a gerar perdas enormes para o banco, tanto em dinheiro quanto em qualidade de pessoal. Por isso, ele deveria estar em sua própria alça de mira, uma vez que seu custo-benefício para o banco é claramente negativo”, acrescenta.
O Comando tem informações de que já existe até grupos de advogados sondando as agências para propor ações trabalhistas contra o banco em caso de demissões.
O Comando exige uma negociação para tratar do assunto. “Qual o critério. Como é avaliado este custo-benefício que o DGP tanto fala? O que é ‘improdutivo’? Quem avalia a produtividade? Quem será avaliado?”, acrescenta Aparecido, que lembra: “Quando houve negociações em momentos de crise, como o PCS, questões de saúde e o licença-prêmio, não houve passivo”.
A solicitação de uma reunião específica com o presidente do banco, Milton Luiz de Melo Santos, para debater o assunto foi feita há duas semanas e até agora nenhuma resposta foi dada. “Vamos esperar até sexta-feira (7). Se o silêncio continuar, o Comando irá começar a mobilização”, diz Sabóia.
Um bom exemplo sobre a falta de critério está no TI. Recentemente, todos os aposentados foram avisados que serão demitidos. “Quer dizer que após anos trabalhando duro pelo banco, eles passaram a ser ‘improdutivos’ de uma hora para a outra? Quem avaliou isso? Onde estão as razões para a falta de produtividade?”, questiona Dejair.
Assédio moral e metas abusivas
Na reunião de quarta o banco voltou a ser cobrado sobre os constantes relatos de assédio moral e pressão por metas abusivas recebidos recorrentemente pelo comando. Foi informado ainda que há uma sondagem da procuradoria do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O banco disse que está confeccionando uma cartilha interna cobrando dos gerentes o fim da prática, que é vista pela legislação como crime.
Eles não quiseram fazer a cartilha conosco, fizeram sozinhos. Nós vamos avaliar seu impacto no dia-a-dia do bancário. O MTE está de olho, se não melhorar, vai gerar mais passivo e o custo-benefício dos assediadores irá cair. Será que eles entrarão na mira do Itamar?”, indaga Sandra.
Caixas
Os caixas estão vivendo um caos. Além de serem obrigados a vender e atender ao mesmo tempo, também fazem o papel de tesoureiros. E os substitutos não estão recebendo as gratificações de acordo com a CCT. O banco afirmou que vai orientar os caixas a apenas oferecer produtos e não efetivamente vendê-los e também garante que vai recolocar a função de comissionado na tesouraria.
Nas agências de primeira classe isso já está ocorrendo. Nas de segunda classe as vagas serão preenchidas através de concursos. O Comando insiste que o mesmo valha também para as de terceira e quarta classes. No caso das gratificações, se não mudar, serão mais passivos e nova queda do custo-benefício do diretor de DGP.
Horas extras
Há denúncias de irregularidades no pagamento do funcionário que faz horas extras e de fraudes na contabilização das mesmas. O banco se comprometeu a soltar um documento orientando a marcação correta do ponto. Caso continuem ocorrendo fraudes, o Comando orienta a denúncia para os sindicatos. “Se problema permanecer, vai gerar passivo também. Mais pontos negativos para o custo-benefício do DGP”, afirma Adriana.
Férias
Alguns funcionários são forçados a tirar o mês inteiro de férias para o banco não arcar com o pagamento de 10 dias de trabalho, caso o trabalhador opte em gozar somente 20 dias, direito previsto na CLT. É o funcionário quem opta, não pode ser forçado a nada. Fatalmente essa política trará passivo.
O banco alega que não está obrigando e sim apenas recomendando e acrescenta que irá reforçar que é uma recomendação e não uma obrigação.
Transferências
O Comando cobrou também um processo mais ágil nas transferências, com um sistema dinâmico de cruzamento de dados dos candidatos para que seja feito um casamento mais efetivo das necessidades tanto do empregado quanto da empresa, sem que sejam levadas em conta questões pessoais em detrimento das profissionais.
Fonte: André Rossi – Seeb SP