Diminuem a pobreza e a desigualdade. E aumenta a inclusão social no país

Dois estudos divulgados nesta terça-feira 5 de agosto, um da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e outro do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), registram uma tendência promissora na situação sócio-econômica do Brasil: a redução da pobreza e da desigualdade social em ritmo inédito no país nos últimos anos e a ascensão econômica de vastas parcelas da população, como resultado do crescimento econômico, da geração de empregos, do aumento do salário mínimo e da remuneração dos trabalhadores de forma geral, e também das políticas sociais do governo federal.

“A queda na desigualdade que estamos presenciando agora é espetacular, com uma intensidade comparável à do crescimento da concentração da renda na década de 1960. O Brasil descobriu nesse movimento uma espécie de poço de petróleo que, bem explorado, está ajudando a tirar milhões de famílias da miséria”, comemora o economista Marcelo Néri, do Centro de Políticas Sociais da FGV, ao divulgar o estudo coordenado por ele a partir de dados da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE entre abril de 2002 e abril de 2008, nas seis maiores regiões metropolitanas do país.

A proporção de miseráveis nessas metrópoles caiu de 35% para 25% nesse período. E a classe média, que era 44% da população, chegou a 52%. A FGV considera classe média a população cuja renda familiar vai de R$ 1.064 a R$ 4.591 mensais. Segundo o estudo, somente entre janeiro e abril de 2008, 32% dos brasileiros que se encontravam em situação de miséria nas seis maiores cidades do país ascenderam de classe social.

‘É algo atípico no país’

“O plano de fundo para essa mudança é a redução da pobreza acompanhada de crescimento da economia e da renda do trabalho mais sustentável e mais eqüitativa. A classe média começa a colher os benefícios. As pessoas estão indo para a classe C e ficando”, diz Marcelo Neri (veja quadro).

O economista cita a participação do emprego formal nas seis metrópoles estudadas em abril, de 44,3%, maior percentual desde 1992. “As metrópoles estão indo no positivo”, diz. Para reforçar a tese do fortalecimento da classe C, Neri destaca a criação de 387 mil vagas no primeiro semestre deste ano, o equivalente a 28,5% do total de postos de trabalho, também maior proporção da série histórica do IBGE, desde 1992.

Desde 2001, a desigualdade de renda no país vem caindo, o que é considerado algo histórico para o pesquisador da FGV. “São sete anos seguidos, é algo completamente atípico no Brasil”, afirmou. De acordo com o levantamento, o total de pessoas na faixa dos pobres (classe E) e remediados (classe D) nas seis metrópoles abrangidas pela PME – São Paulo, Rio, Salvador, Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre – caiu de 42,8% para 32,6% de abril de 2002 para o mesmo mês de 2008.

Maior possibilidade de ascensão

Paralelamente à redução da pobreza, o aumento da renda nas grandes cidades tem ocorrido desde o final de 2006 e por meio do trabalho cada vez mais formalizado. O quadro positivo, avalia o pesquisador da FGV, é resultado da política econômica adequada, de políticas sociais mais consistentes e do maior grau de escolaridade da população, embora a qualidade do ensino ainda seja alvo de ressalvas.

Segundo o estudo, o brasileiro de classe média tem tido neste ano a maior chance de ascender para a elite e de evitar a pobreza. Ao avaliar a evolução da renda domiciliar de uma família de classe média de janeiro a abril de 2008, Neri observou a maior taxa de mudança para a elite quando comparou com períodos semelhantes de anos anteriores desde 2003. Também notou a menor taxa dos que migraram para a classe E. “O último filme da classe C mostra a possibilidade de ascensão, não observada desde 2002, enquanto a probabilidade de queda para classe pobre é a menor desde 2002”, diz.

Mesmo com a inflação dos alimentos corroendo a renda do trabalho em proporções que crescem mais quanto menor for a renda, Neri não enxerga possibilidade de deterioração deste movimento de consolidação da classe C.

Pobreza cai quase um terço

Já o estudo do Ipea, também divulgado na terça-feira, mostra que o percentual de famílias pobres caiu de 32,9% para 24,1% da população nas seis maiores regiões metropolitanas do país entre 2002 e 2008, o que representa uma redução de quase um terço no total de pobres, ou cerca de 3 milhões de pessoas.

O levantamento, com base na pesquisa mensal de emprego do IBGE, considera como pobres pessoas em famílias com renda mensal per capita de até meio salário mínimo (R$ 207,50). Já o percentual de indigentes (renda de até R$ 103,75) caiu pela metade no mesmo período, de 12,7% para 6,6%, uma redução de 2,4 milhões de pessoas nessa condição. Hoje, 27,4% dos pobres são considerados indigentes – em 2002, esse percentual era de 38,6%. “As medidas para o combate da indigência estão tendo resultados mais efetivos que as medidas para combate da pobreza”, avalia o presidente do Ipea, Marcio Pochmann.

Em números absolutos, as duas regiões metropolitanas que registraram as maiores quedas na pobreza foram São Paulo e Rio de Janeiro, com redução de 1,15 milhão e 571 mil, respectivamente, no número de pessoas pobres entre 2002 e 2008. A região que registrou a menor redução foi Recife, cerca de 300 mil pobres a menos. Além dessas regiões, entraram na pesquisa Porto Alegre e Salvador. Em termos proporcionais, no recorte regional, a maior queda da pobreza foi registrada em Belo Horizonte, de 38,3% da população em 2002 para 23,1% em 2008. No Rio, o percentual de pobres saiu de 28,4% para 22%.

O estudo do Ipea mostra que, entre 2002 e 2008, o crescimento da economia beneficiou também os mais ricos (indivíduo pertencente a famílias cuja renda mensal é igual ou superior a 40 salários mínimos, ou R$ 16,6 mil). Em termos percentuais, os ricos passaram de 0,8% da população em 2003 para 1% em 2008, mesmo percentual do ano de 2002. Em números absolutos, cresceram de 362 mil para 476,5 mil.

Segundo o Ipea, o crescimento da economia beneficiou menos os ricos e pessoas de classe média alta. “O crescimento econômico vem acompanhado de mais empregos, que estão basicamente na base da pirâmide. A expansão do emprego de classe média alta depende da continuidade do crescimento”, disse Pochmann.

Para Pochmann, a saída de 3 milhões de brasileiros da pobreza entre 2002 e o fim de 2008 nas seis maiores regiões metropolitanas do país, conforme a previsão do órgão, é influenciada pelo crescimento da economia (com geração de emprego formal e aumento salarial), os ganhos reais do salário mínimo e as políticas sociais.

Os resultados do levantamento também mostram que, no período analisado, houve ascensão de uma classe intermediária: enquanto em 2002 aproximadamente dois terços da população nos grandes centros integravam a chamada classe média e classe média baixa, em 2008 a participação deverá crescer para um percentual mais próximo a três quartos.

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