Claudia Safatle
Valor Econômico
A presidente Dilma Rousseff está muito preocupada com o desenrolar da crise na Espanha e teme que o agravamento da situação acabe por comprometer os investimentos das companhias espanholas no Brasil. A Espanha é o terceiro maior investidor no Brasil, com um saldo de US$ 79,5 bilhões, precedida dos Países Baixos (US$ 169,5 bilhões) e dos Estados Unidos (US$ 125,4 bilhões), conforme dados do Banco Central relativos ao censo de 2011.
No primeiro quadrimestre deste ano os investimentos daquele país somaram apenas US$ 739 milhões, uma queda brutal se confrontado com os US$ 4,7 bilhões de investimentos diretos em igual período de 2011. As empresas espanholas têm diversas concessões nas áreas de energia (Iberdrola, controladora da NeoEnergia), telecomunicações (Telefónica) e rodovias (OHL) e o Santander é um dos cinco maiores bancos em atividade no país.
Na segunda-feira Dilma terá um encontro com o rei Juan Carlos, cuja visita ao Brasil será seguida da vinda do primeiro-ministro Mariano Rajoy, para a conferência Rio+20. A presidente deverá externar suas preocupações na conversa com o monarca, com quem almoça no Itamaraty, não só em relação ao futuro dos investimentos das companhias multinacionais espanholas no Brasil, mas também com o que pode ocorrer com as remessas de lucros dessas empresas para suas matrizes, disse um assessor.
O Palácio do Planalto está monitorando a crise na zona do euro diariamente, com base em informações do Banco Central e do Ministério da Fazenda, além dos meios de comunicação e, em especial as dificuldades crescentes da Espanha. Acompanha com atenção, ainda, as notícias de uma suposta operação de compra, por bancos nacionais, do Santander no país.
Ontem as ações do Bankia – terceira maior instituição financeira daquele país em ativos e que deve ser recapitalizada em 19 bilhões de euros pelo governo espanhol – caíram 13,38%, as do Santander tiveram perda de 3%, e as do Bankinter, de 4,26%.
Na avaliação de assessores da presidente, na medida que a crise europeia se aprofunda, cabe à área econômica do governo brasileiro diminuir seu ativismo e acumular munição para uma futura reação aos fatos. Se a Grécia sair do euro ou se houver problemas mais graves com os bancos espanhóis, por exemplo, o governo sabe que haverá muita tensão nos mercados e que muito provavelmente ocorrerá uma parada abrupta nos fluxos do crédito externo para o país.
O Brasil dispõe de US$ 372,27 bilhões em reservas cambiais para enfrentar a escassez temporária de crédito externo e de R$ 393 bilhões em depósitos compulsórios para irrigar o sistema bancário doméstico, caso necessário.
Em situação extrema poderá, ainda, lançar mão de medidas de relaxamento fiscal, reduzindo a meta de superávit primário de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano. A hipótese de redução da meta, porém, não está sob consideração no momento e o debate sobre essa alternativa não chegou à presidência da República. Em valores absolutos, o governo se comprometeu com um superávit consolidado de todo o setor público de R$ 139,9 bilhões, sem descontar os investimentos de cerca de R$ 40 bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Se for preciso, basta optar pelo desconto do PAC.
A disposição, porém, é concentrar o foco da reação na redução da taxa básica de juros (Selic).