A presidenta Dilma Rousseff elevou o tom nesta terça-feira (12), em encontro com professores e estudantes, no Palácio do Planalto, ao falar sobre o processo de impeachment, que chamou de “farsa”, promovida por “dois chefes do golpe que agem em conjunto de forma premeditada”, em referência ao vice-presidente, Michel Temer, e ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Este não será o país do ódio", afirmou.
A presidenta disse ter ficado “chocada com o vazamento deliberado, premeditado de um anúncio de posse antecipada, subestimando a inteligência dos brasileiros e brasileiras”. Ontem, vazou um áudio de Temer discursando para a nação, como se o processo de impeachment já tivesse sido aprovado em plenário – a votação está prevista para o próximo domingo (17).
“Vamos raciocinar. Antes sequer da votação do inconsistente pedido de impeachment foi distribuído um pronunciamento onde um dos chefes da conspiração assume o papel de presidente (…) De que base legal ele retirou a legalidade de seu gesto?”, questionou Dilma, afirmando que o vazamento deixa explícito o “desapreço que se tem pelo Estado democrático de direito e pela Constituição Federal, ao atropelar os ritos em curso, demonstrando desrespeito, inclusive ao Legislativo”. Em resposta, os presentes gritaram em coro: "Fora, Temer!"
Dilma defendeu-se de acusações sobre possíveis negociações de cargos para recomposição de base para a votação de domingo, acusando os adversários. “Ao longo da semana disseram que eu estaria usando de expedientes escusos. Me julgam pelo espelho, pois eles usam tais métodos. Caluniam enquanto leiloam posições no gabinete do golpe de um governo dos sem votos”, disse.
Sem citar o nome, Dilma fez referência a Cunha, responsável pela condução do processo de impeachment na Câmara. “Se havia alguma dúvida sobre a denúncia do golpe em andamento não há mais. Os golpistas têm chefe e vice-chefe assumidos. Um deles é a mão, não tão invisível, que conduz com desvios de poder e abusos inimagináveis o processo de impeachment, outro esfrega as mãos e ensaia a farsa do vazamento de um pretenso discurso de posse.”
A presidenta definiu a defesa de seu mandato como a manutenção de um projeto inclusivo, além de representar a manutenção de “uma jovem democracia, da legalidade, da república e da educação no país”, afirmou. Dilma alinhou as tentativas de golpe contra seu governo com possíveis ataques à educação pública. “O golpe é contra tudo aquilo que nos últimos 13 anos meu governo e o governo Lula têm feito, com o apoio do povo e o trabalho incansável dos movimentos sociais”, disse.
Dilma pediu “calma e paz”. “Não somos violentos. Não perseguimos pessoas. Não divergimos de adversários com gestos de ódio. Acreditamos na consciência das pessoas e que a verdade há de prevalecer”, afirmou. Dilma prosseguiu com um alerta: “Não se deixem enganar por nenhuma manobra mentirosa de última hora. Peço a todos que estejamos atentos e vigilantes nos próximos dias. Possivelmente sofrerei novos ataques desesperados. Não aceitem provocações. Não somos do ódio, somos da paz”.
Em relação à educação, a presidenta apresentou dados para “dar consistência à ideia de pátria educadora”: “Criamos 18 universidades federais, 173 campi universitário, 422 novas escolas técnicas federais. Contratamos 49 mil professores por concursos públicos. Mais de 4 milhões de jovens entraram em universidades privadas através do Prouni e do Fies, 9 milhões e 500 mil brasileiros cursaram a formação profissional”.